O isolamento social trouxe muitas mudanças. Vieram a solidão, o medo, a insegurança… e vieram desafios, aprendizados e descobertas. Nossas vidas atravessam um momento estranho, difícil e inesperado. Nossa rotina de cada dia virou de ponta-cabeça.

Os integrantes do Grupo de Estudos e Reflexões sobre o Envelhecimento do Ideac – carinhosamente chamado Pantufas de Ouro – propuseram-se a escrever sobre suas experiências durante esse tempo. Abriram seus cotidianos e seus corações para revelar a desconhecidos leitores futuros a descrição de como estão vivendo a pandemia.

Houve um roteiro de questões, mas cada Pantufa escolheu um modo de narrar; embora sentimentos e situações se repitam, o jeito de cada um contar sua experiência é muito pessoal. O resultado é uma rica coletânea de textos onde se revelam a garra, a fé, a superação e a procura de um sentido maior para tudo que está acontecendo, abalando a trajetória de pessoas que compartilham há anos o estudo do envelhecimento e os seus próprios envelheceres.

São registros datados. Possivelmente ao final dessa pandemia os autores acrescentem adendos, tornando o todo da experiência ainda mais interessante. Estarão aprofundando ainda mais o grande ganho desses relatos, ou seja, a vontade de assumir as sombras e mergulhar num oceano de incertezas, em busca da luz.

O fim de tudo? Quem viver, verá!
E, como diz Guimarães Rosa, o que a vida quer da gente é coragem. Boa leitura!

"Ou o indivíduo muda ou nada mudará"

Maio 2020, por Ana Maria M. S. Battaglin

Sou uma mulher de 71 anos, com Parkinson, vivendo em São Paulo, Brasil, neste estranho ano de 2020. Sou também filha, mãe, tia, avó, participante de uma vida familiar mais ampla. Continuo atuando com psicologia analítica – trabalho que me alimenta física e psiquicamente e implica num esforço de autoconhecimento e na busca de compreensão dos muitos e diferentes aspectos que compõem o humano. Estou aposentada, após anos de trabalho como  professora da PUC-SP, universidade que me deu muito, como estudante e professora.

Todos esses fatos são também decorrência de vivências que me acompanham desde a mais longínqua infância:

"É difícil prever a extensão dessa mudança"

02 junho 2020, por Antonio Carlos Martinelli

Um habitante do planeta Terra, América do Sul, Brasil, São Paulo, Bairro de Pinheiros, Vila Madalena. Moro só, em um confortável apartamento, maior que minhas necessidades atuais.

Estou, como todos os habitantes do planeta Terra, vivendo uma profunda crise causada por um inimigo invisível, pouco conhecido, mas devastador. Estamos no primeiro semestre do ano de 2020 e a palavra mais usada em várias línguas no mundo é coronavirus ou Covid-19. 

"A força da fé"

25 maio 2020, por Cleide Martins

Minhas queridas netas, Stela e Helena,

Estou escrevendo esta carta com a expectativa de que a leiam daqui a muito tempo, uns trinta a cinquenta anos, por aí…

Na data em que estiverem lendo, talvez vocês não se lembrem mais, ou se lembrem muito pouco de um período inédito que vivemos… espero que este relato sirva para ajudá-las a recordar, e que, tendo um certo distanciamento histórico possam avaliar se serviu para melhorar a vida no nosso planeta sufocado.

"Ressignificar atitudes"

07 abril 2020, por Ezio Okamura

Comecei a quarentena em 24 de março de 2020, ou seja, estou em regime de distanciamento social presencial há catorze dias. Estou no Jabaquara, São Paulo, Capital.


Estou numa casa de cerca de cento e cinquenta metros quadrados. Comporta living, sala de estar, de refeição, cozinha, quatro dormitórios e dois banheiros. A área de serviço é externa e há quintal. Estamos nela: minha mãe, eu e duas cuidadoras que em revezamento cobrem as vinte e quatro horas do dia.

"As janelas ganharam vida"

24 abril 2020, por Ivani Cardoso

Ivani Cardoso, jornalista, 67 anos. Mas atualmente tenho algumas dúvidas sobre quem sou eu. Algumas coisas mudaram em mim. Nada a declarar, por enquanto, mas muito a refletir.

Qual a data em que você está escrevendo este registro, e em que lugar do mundo você está?

Hoje é dia 24 de abril de 2020. Estou em São Paulo, não é a minha terra natal (Santos), mas onde vivo há vinte anos e onde escolhi ficar durante esse período esquisito.

"Identificar e tocar sentimentos mais profundos"

21 maio 2020, por Jader Santos Andradre

Carta ao leitor desconhecido
2070.
Este é ano da graça em que você está. Que você esteja bem! E quem é você que desconheço? Como chegou até mim? Não vou poder ouvi-lo, mas responda-me ainda assim. Pergunto, porque quero contar uma importante história. Antes, apresento-me. Basta meu nome: Jader. É um nome pouco comum, mas foi o que meu pai escolheu. Contava que saiu para fazer meu registro no cartório e como queriam um nome com J lembrou-se de uma loja: Casa Jader. Pois é, sou nome de loja. Já adianto que não sou bom comerciante, mas gosto de atender bem. 

"Tudo virtual, não gosto, quero abraçar!"

20 abril 2020, por Lucy de Araújo

Quem é você? Qual a data em que você está escrevendo este registro, e em que lugar do mundo você está? Há quantos dias você está em isolamento social, se é que está, e no que ele consiste?

Sou Lucy de Araújo. Meus pais eram nascidos em Caicó, Estado do Rio Grande do Norte. Meu pai veio para São Paulo em 1928; foi casar-se com minha mãe em Caicó em1938 e desde então eles viveram sempre em São Paulo. Eu nasci em maio de 1941. Primeira filha. Fui criada com muito amor e simplicidade. Hoje, 20 de abril de 2020, estou às vésperas dos 79 anos. Estou em isolamento social desde 13 de março, há 37 dias. Meu único contato com familiares e amigos é por telefone e celular. 

"Está sendo positivo eu ter me decidido a ser feliz"

24 maio 2020, por Maria Celia de Abreu

Escrevo este texto imaginando que alguém, no futuro, pode querer saber como viveram as pessoas no ano de 2020, sob uma pandemia. Para esse hipotético e curioso leitor, passo a relacionar informações sobre mim e minha vida hoje.

Hoje é domingo, 24 de maio de 2020. Meu nome é Maria Celia Teixeira Azevedo de Abreu. Ao final da primeira semana de julho completarei 76 anos. Moro em São Paulo, SP, Brasil, bairro Jardim Paulista. Nasci aqui e nunca morei em outra cidade.

"A pandemia mudou a dinâmica de todos"

21 abril 2020, por Maria de Lourdes Junek

EM ÉPOCA DE PANDEMIA

Sou Maria de Lourdes Junek, tenho 70 anos, sou psicóloga. Fiquei viúva em setembro de 2017, depois de quarenta e nove anos de casamento. Claudio e eu tivemos três filhos: Luis Claudio, Jorge Otavio e Paulo Roberto, e dois netos. Luis Claudio é casado com Nancy, e moram em Cotia (SP); Jorge Otavio é casado com Claudiene, têm dois filhos (João Augusto com 7 anos e Pedro Antônio com 5 anos) e moram em Araxá (MG); e Paulo Roberto mora com Milene e com o filho do primeiro casamento dela (Dimitri, de 7anos) no Balneário Camboriú (SC).

"O confinamento se traduziu em prazer a aprendizagem"

19 abril 2020, por Marli Corrales Henriques

Hoje, uma linda tarde de outono, escrevo este relato sobre meus dias de isolamento durante a pandemia do Covid-19.

Falar sobre quem sou me parece difícil. Dúvidas, sombras, consciente, inconsciente…

Sou mulher, 71 anos, esposa, mãe, sogra, avó, filha, irmã, tia, cunhada, prima, amiga, pedagoga, psicopedagoga e psicóloga. Tenho uma família que amo. Sou casada há quarenta e sete anos com José Caruso e temos três filhos: Felipe, 44 anos, arquiteto, casado com Eliana, tem dois filhos, Pedro com 11 e João com 9 anos; Guilherme, 40 anos, advogado, casado com Vanessa, tem dois filhos: Eduardo com 9 e Rafael com 8 anos; e Daniel, 39 anos, administrador financeiro, casado com Thais, tem um filho, o Renato, com um ano e nove meses, e estão esperando outro bebê, do qual ainda não sabem o sexo.

"Sem a fé, ou a espiritualidade, eu ficaria sem chão"

16 abril 2020, por Sonia Azevedo Menezes Prata Silva Fuentes

Um retrato de nossas vidas neste momento

16 de abril de 2020.

Meu nome é Sonia Azevedo Menezes Prata Silva Fuentes, tenho 62 anos e 10 meses, sou geminiana, psicóloga com especialização e interesses no envelhecimento. Fiz mestrado, doutorado e pós-doutorado com ênfase na Gerontologia Social. Sou mãe de três filhos: uma moça de 38 anos, um rapaz de 36 anos e dez meses, e outro rapaz de 35 anos e 5 meses. Sou abençoada por ter um neto de quase 2 anos, e um genro de bom caráter. Além disso tenho uma cachorra muito querida de 3 anos, vira lata de nome Paçoca.

"Tenho esperança de que virá um mundo melhor para todos"

24 abril 2020, por Suely Tonarque

Quem é você? Qual a data em que você está escrevendo este registro, e em que lugar do mundo você está? Há quantos dias você está em isolamento social, se é que está, e no que ele consiste?

Meu nome é Suely Tonarque. Tenho 68 anos e trabalho com moda feminina para mulheres maduras, há longos anos. Mas, devo dizer que às vezes, nessa quarentena, por questões de milésimos de segundos, não consegui saber quem era eu!…

Estou na minha casa sozinha; moro com minha irmã Duda mas, antes de começar este isolamento social, ela foi para Aiuruoca (MG) e pretende voltar apenas quando todo o risco terminar!

"Ser criativa na maneira de lidar com o dia a dia está ajudando bastante"

24 abril 2020, por Tatiana Wernikoff

Qual a data em que você está escrevendo este registro, e em que lugar do mundo você está?
Hoje é dia 19 de abril de 2020, estou em São Paulo, Brasil, onde nasci e construí minha vida. Moro com meu marido; somos casados há cinquenta e seis anos, cada um com um temperamento e um jeito de encarar a vida, mas com bons vínculos.

Quando a pergunta fala “em que lugar do mundo”, me vem ao coração em quantos outros lugares sou ligada pelo amor. Quando criança, morei com meus pais por um ano no Rio de Janeiro, e me ficou o amor pela cidade; atualmente tenho lá familiares muito queridos, em especial meu filho mais novo (hoje com 47 anos), minha nora e dois netos maravilhosos (ela com 17 anos, ele com 12). O filho mais velho (com 52 anos), vive no México, com a esposa e meus outros dois netos queridíssimos (ele com 15, ela com 13 anos). Uma grande alegria hoje é ver os filhos e suas famílias, felizes, porque construíram suas vidas nos lugares em que moram, com amigos, trabalho e lazer, todos muito equilibrados.

"Fechamento"

Por Maria Celia de Abreu

A pandemia do Coronavirus-19 não estava prevista.Longe de mim desmerecer o valor de se elaborar um plano, de se traçar metas. Porém… é interessante o que pode acontecer, a partir de um ato, mesmo que aparentemente seja um pequeno ato, ou de um incidente, pequeno ou grande, que não tenha sido previsto…