70 anos.
Acho chique falar isso, faço 70 anos. Uma certa fascinação me invade. Convido a todos para cantar comigo.
Mil castelos ergui, luz e sedução, embalando nossos corpos na valsa de Galhardo. Resolvido, esse será o tema da festa: Fascinação. Na voz de Aguinaldo Rayol, dos sonhos mais lindos, sonhei.
Quem nunca ergueu castelos, previu venturas? La ra ra, la la la la ra…
Essa é a minha chance, não tive festa aos 15, nem aos 30, nunquinha. Mas dos 70 não pode passar. Já fiz a play list. Chique demais, só tem pérolas de Bethânia, Chico, Milton, Elis, Roberto Carlos, Ray Conniff, Beatles … que riqueza vivemos, os sessenta mais!
Quem foi que disse que a velhice seria o fim das ilusões, das quimeras e carregada de dores?
Essa divisão do tempo em números inteiros é uma coisa poderosa para mim. Parece haver uma força mágica no ato de fechar os ciclos. Dá vontade de olhar para o começo, descortinar os meios e saborear o fim de histórias. São movimentos involuntários confortantes. Dá uma sensação de totalidade. Talvez por isso tenham inventado a marcação das fases da vida, não em metades, tipo a idade para entrar na escola é aos 7 anos. Entrar na adolescência é aos 15. Hora de namorar, hora de casar, hora de dormir e acordar, tudo determinado em horas cheias.
E agora, vivi sete décadas exatas. E daí? Será obrigatório fechar algumas portas? Qual o fim dessa temporada? Muitas perguntas tumultuam minha alma. Se fechar portas, vou abrir outras. Às vezes, não são portas, fechamos frestas, janelas e abrimos equivalentes, ou não… Nesse momento parece ter algo de mistério no ar. Passado o momento de festa e fascínio, pergunto como será essa nova paisagem? Nublada? Cheia de luz? Com desafios? Um sofá bem gostoso só pra repousar? O que nos reserva o futuro, quem sabe?
Enquanto penso, lembro de minha avó dizendo, ih, minha filha, tá na hora de pegar no terço… Chega de brincar com a vida, precisa se pegar com Deus. Daqui pra frente, está fazendo horas extras… Será que dá pra chegar aos 80? Uma temeridade, ouço minha avó dizer! Sabe-se lá, em que condições chegaria, a que preço? Para gerações passadas, junto do presente de 70 anos era entregue uma sentença de morte. E se a morte está na porta, o bom mesmo era rezar. Ter uma fé. Essa é a hora.
Mas, se minha avó vivesse em nossos dias, diria o mesmo? Decido que essa advertência valia só pra seu tempo. Dá pra adiar um pouco essa conversa. Não começo a morrer aos 70. Mas, também não vou viver como se não houvesse amanhã. Algumas urgências sondam meu coração. Uma certa arritmia. Quantas horas extras me serão concedidas? Concedidas, ou conquistadas? O que quero fazer e ainda não tentei? Preciso decidir. Para que vivi até agora e para que quero viver? Qual história contará a minha? Quais as crenças, mitos ou lendas me identificam?
A festa acabou e acordei, são tantas as tarefas ditadas pela alma. Preciso cantar a minha própria canção, separar quem sou do que queriam que eu fosse. Difícil, mas um novo fascínio me toma para começar e trilhar outros meios e mudar o fim.
Volto pra contar.
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Cleide, querida! Que bom ver você assim nos fascinando aos setenta!…
Beijos! Parabéns!!!