Por Cleide Martins (*)
Sempre fui ligada às datas de aniversário de meu nascimento, namoro e casamento. Nos aniversários de nascimento fico listando (mentalmente, claro!) os nomes das pessoas de quem espero sinceros cumprimentos, ticando aqueles que se lembraram e esperando ansiosa pelos ausentes.
Como autêntica canceriana que sou, guardo bem presentes as memórias afetivas, para o bem e para o mal.
Nos últimos 51 anos de casada, sempre esperei – quietinha – que meu marido fosse o primeiro a me cumprimentar e celebrar as datas, tanto de aniversário de namoro, como de casamento. E sempre fiz questão de organizar um modo celebrá-las. Eu ficava com a incumbência – sem explicitar que a tinha, de preparar algo, por mais simples que fosse, e ele, sem nunca se comprometer com isso, teria que ser o primeiro a me cumprimentar… E se acaso isso demorasse pra acontecer, um enorme abismo se abria entre nós. Eu cobrava a falta de atenção, falta de carinho e a celebração ficava nublada.
Mas, hoje, alguma coisa mudou. Acordei para uma segunda-feira normal, e como de costume, cuidei da rotina: café, arrumação de casa, preparo de almoço. E, fazendo tudo que tinha a fazer numa segunda-feira, não esperava por mais nada, menos ainda celebração e cumprimentos. Isso até que meu filho ligou pra nos cumprimentar.
– E aí, como vão celebrar os 52 anos de casados?
– Oi, como? O que? Que dia é hoje?
Nós tínhamos esquecido. A minha surpresa maior, entretanto, foi a enorme gargalhada que me veio, espontânea e inesperada. Como assim? Esqueci?
Pois é, esquecemos e isso é motivo para rir? Pra onde foram as expectativas de celebração, as memórias afetivas?
Os sonhos envelheceram? Já estamos velhos demais pra essas coisas piegas?
Depois do susto, da surpresa, refletimos.
Não, não é sinal de caduquice, nem de falta de afeto, estamos bem, obrigado! Corri pra cozinha e improvisei um almoço mais do que especial pra uma segunda-feira, abrimos um bom vinho da última viagem, e comemoramos. Sem cobranças, sem culpas, com bom humor. Com boas lembranças das datas passadas e com planos de futuro.
Se envelhecer juntos e ficar caduco for assim, que seja. Foi gostoso.
Acho que entendemos que celebrar a vida não carece mais de grandes pompas. Será possível celebrar se houver uma razão para continuarmos juntos e se sentirmos que vale a pena. Até aqui, aprendemos mais e choramos menos juntos do que separados.
Acredito, daqui pra frente, a vida será mais rica de significados etéreos e invisíveis do que carregada de exigências ostensivas. As dores inevitáveis, as dificuldades do caminho, as limitações inerentes ao envelhecimento parecem mais previsíveis e contornáveis se as reconhecermos a tempo. Esse preparo tem acontecido, graças às leituras, discussões e oportunidade de exercícios cognitivos feitos em grupo, no Ideac, com ênfase na importância do autoconhecimento e na manutenção dos relacionamentos interpessoais.
Esquecer datas deixou de ser um crime hediondo, novas demandas tornam-se evidentemente urgentes e possíveis. Sou assaltada pelo desejo de viver de modo mais leve, rir dos próprios enganos, experimentar coisas que nunca fiz, tornar a vida de alguém – próximo ou distante – menos amarga, e outras tantas que ainda vou descobrir …
Em minha alma, no meu envelhecer, começa a se desenhar a tarefa de colaborar com o Criador, com mais humildade, sendo menos deusa e mais gente, exercitando a solidariedade e a empatia para ajudar na conquista da harmonia universal – o que, aliás já foi dito por Tagore…
(*) Cleide Martins é pedagoga e especialista em Ciências da Religião pela PUC-SP
Muito bom! Sou testemunha desse processo e aprendiz privilegiado de tudo isso.
Privilegiado mesmo pelos pais maravilhosos e você é semente privilegiada também, abraços
Que delícia é se permitir!
Que delícia saborear seu texto Cleide – sabedoria pura !
Verdade Jader, esse texto da Cleide é daqueles para se guardar do lado esquerdo do peito, abraços
Que linda mensagem Cleide
Me emocionei e ri de alegria
Parabéns
Emoção positiva é muito bom mesmo. Cleide conseguiu emocionar. Abraços
Parabéns Cleide querida! Pelos longos anos de casamento, pela sua capacidade de ver e viver a vida desse modo tão amoroso. Seu texto faz bem pra alma!
Beijos para o casal.
Faz bem mesmo, a alma fica mais leve e com esperança, abraços
Cleide fiquei encantada com seu texto. Me senti revivendo estes momentos. Rir, compreender e partilhar são ideias muito importantes.
Exatamente, Cleide conseguiu num texto reunir sentimentos do dia a dia, valorizar o que importa e mostrar que os padrões podem mudar também. Abraços
Adorável momento do casal e, Cleide, delicia essa confissão do que passa a ser essencial. Genial ler, agora que Gio e eu faremos 60 anos de casados em Outubro.
Cleide, delícia de texto e delícia de comemoração!!!! Parabéns pro casal! Beijo carinhoso!
É um texto delicioso mesmo, sincero e carinhoso como é a nossa Cleide. Abraços Bel
Personagem, atuante, elenco, contra regra, autor e co-autor e dentre todos os papéis, o de marido esquecido e aprendiz, do passar do tempo quando fatos assim dão ensejo a novas descobertas das infindas dimensões do amor e compreensão da longa convivência…
Que reflexão bonita Enéas. Vocês se completam até nas diferenças, passam uma energia de amor muito forte para todos. Parabéns pelo aniversário que não será esquecido jamais. Abraços
Que gostoso ler e ecoar em mim lembranças afetivas…
Muito bom Cleide ler este texto…Como Eu..como você e a maioria das mulheres precisamos melhorar nestes comportamentos..
agradeço a amizade também
Como é bom ser amiga de vocês !Casal simpático que me transmite confiança e carinho.
Parabéns, que a união de vocês continue sempre abençoada e abençoando
É o que todos desejamos para esse casal tão querido. Obrigado pelo retorno, abraços
Adorei conhecer seu blog, tem muito artigos bem interessantes. Livro de endereços do AnyDesk
Obrigado pelo seu retorno. Volte sempre ao nosso blog e ao nosso convívio, temos várias atividades e gostaríamos muito de sua presença. abraços