Por Ivani Cardoso (*)
O envelhecer trouxe a difícil consciência da fragilidade do corpo. Tenho um amigo que diz que quando acorda sem dor acha que morreu. É assim mesmo, e parece que vamos nos acostumando com os pesos e pesares que a idade traz.
Um dia é o joelho que dói; em outro você descobre que a coluna lombar está ferrada e faz você se levantar da cama com 100 anos; talvez a dificuldade de ouvir o que antes ouvia com perfeição e ter que admitir que realmente está ficando meio surda, como os filhos tanto fazem questão de afirmar.
E ainda tem que untar o corpo com creme especial e caro para melhorar (um pouco) a pele tão ressecada de uma hora para outra. Claro, tem os dentes, ah os dentes que eram brancos e perfeitos e que agora exigem visitas constantes ao dentista.
Aparecem carocinhos pelo corpo, cistos, nódulos e lesões que assustam e te deixam em suspenso até o dermatologista ou qualquer médico da área olhar e tranquilizar. Pior, vêm cirurgias inesperadas que trazem bengalas, andadores, cuidadores e … mais dores.
Enfim, o que há de bom na passagem do tempo?
Hoje eu penso que o melhor mesmo é a sensação de continuar fazendo parte deste maravilhoso programa presencial que é a vida. Olhar no espelho e se aceitar, apesar das rugas; ousar buscar a força de braços e pernas com exercícios para garantir manter viagens e programas que valem a pena.
Agradecer pela família e pelos amigos que suavizam as dificuldades, compartilham seus medos e garantem segurar as mãos nas horas de aperto.
E como é bom continuar a usufruir de pequenos prazeres como ler um bom livro em uma poltrona gostosa. Ver um filme que emociona e traz reflexões; tomar um café cada vez em um lugar para buscar novos olhares. Ver o mar e sentir que o vai e vem das ondas é como a sua vida.
Não há rede social que traga o prazer de participar do amanhecer de mais um dia sem precisar teclar, curtir ou comentar. Juntar todos os pedaços de mim, inteiros ou fragmentados, e mesmo assim saber que eu sou meu principal seguidor nesse caminho, enquanto ele durar.
(*) Ivani Cardoso é jornalista
Como vc adivinha e descreve a vida de cada um? Muito bom e tb angustiante de ler. Mas logo depois vem o prazer de viver e tudo fica bem. Linda e queridaIvani!
É a vida e é bonita Tatiana, você bem sabe, abraços
“Viver e não ter a vergonha de ser feliz!”… seu texto é um retrato da aceitação e felicidade!
Que bonito Jader, obrigado pelo retorno. Abraços
Também estou juntando todos os meus pedaços: sinto-os todos no seu lugar quando alongo e fortaleço meus músculos, inclusive o coração. Para Tomás de Aquino existir é bom, em qualquer hipótese, porque nos faz partícipes e conscientes do milagre da existência.
Exatamente assim que eu penso. Alongar e fortalecer os músculos também é resistir ao tempo. E acreditar no milagre da vida é essencial. Abraço
Tive a sensação de um encontro lendo seu texto e pensando em você. Parabéns! Tô junto….
Bjs
Afinidades de envelheceres, abraço
Com sua lucidez podemos sentir que valeu a pena , pois sua vida não foi, não é e nem será pequena . Grande reflexão . Bjs em cada pedaço !
Como a sua Cleide, um vida rica em esperança e sem perder a poesia, abraços
Parabéns, querida amiga, até parece que me entrevistou. Seus fragmentos coincidem com os meus, com piora, minpelos anos em sua frente.
O envelhecimento é universal, como lidamos com ele é pessoal e intransferível, abraços
Ivani você é uma escritora impecável. Aquela que traz uma narrativa simples porem muito forte e contundente!
Te admiro de montão
Valeu seu retorno carinhoso, abraços