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Respeito e gratidão às mulheres velhas

Maria Celia de Abreu (*)

As comemorações do Dia da Mulher me levaram a ficar pensando sob o foco de interesse do Ideac: o velho. Quem tem hoje 60, 70, 80, 90 ou 100 anos nasceu entre 1930 – ou seja, entre as duas Grandes Guerras Mundiais – e 1960. Quanta mudança no mundo nessas quatro décadas!

Observando essas gerações de mulheres, meus sentimentos são de admiração e de respeito. E de gratidão. (E de orgulho, uma vez que me incluo nesse grupo…). Pelo muito que tiveram que batalhar para modificar princípios e costumes que não eram justos para as mulheres; e se esforçar e ser flexíveis para assimilar as descobertas da ciência e da tecnologia que foram surgindo em ritmo aceleradíssimo.

São mulheres que conheceram o telefone fixo, quem sabe até o sistema mais antigo operado através da telefonista, e hoje usam o celular. Conheceram a bandeja de gelatina, o mimeógrafo a álcool e a tinta, as máquinas de escrever manuais e elétricas, o fax, e hoje são capazes de reproduzir um texto via internet, usando um computador. Mais que isso: fazem compras online e são ativas nas redes sociais. As mais velhas talvez ainda saibam como cozinhar com lenha ou carvão, só que hoje usam o micro-ondas. Quando nasceram, usava-se um tipo de tecnologia, que elas aprenderam a dominar; só que depois tiveram que substituir esse aprendizado por outro, mais complicado… e o fizeram!

Nisso, não foram diferentes dos homens. Porém, outras conquistas foram só delas, e como foram difíceis! Algumas aparentemente mais superficiais: ter o direito de dirigir, com a consequente liberdade e facilidade que isso acarreta, sem ser obrigada a enfrentar motoristas agressivos e desrespeitosos. (Um parênteses para um testemunho pessoal: nos anos 40, minha mãe aprendeu a dirigir, tinha prazer nisso e era uma motorista excelente – mas cruzava com homens que não aceitavam uma mulher ao volante e se manifestavam cortando, recusando a preferencial, gritando a troco de nada “vai pilotar o fogão, dona maria” e comportamentos semelhantes…). Ter a liberdade de escolher um maiô ou um biquíni para ir à praia ou à piscina. Ter a liberdade de usar calças compridas!

Só que não foram conquistas superficiais. Elas fazem parte de uma visão muito ampla e profunda do valor e do papel da mulher na sociedade. Essas mulheres que hoje têm entre sessenta e cem anos lutaram com muita força, coragem e persistência, sofreram muitas retaliações e abriram caminho para que hoje a mulher possa sair sozinha, viajar, ir ao cinema, entrar num restaurante; estudar numa faculdade e não se limitar ao curso Normal, de secretariado, de decoração e  semelhantes; trabalhar e ser remunerada por isso; exercer profissões que lhe sejam convenientes e que antes eram impensáveis para uma mulher; assumir posições de mando; abrir uma conta bancária, gerir as próprias finanças.

Não é pequena a conquista de poder escolher o próprio cônjuge; de pedir o divórcio para uma relação que não está sendo boa para ela; de poder se casar novamente depois de se ter divorciado! Foram as mulheres que hoje estão na fase de vida da velhice que abriram caminho para que uma jovem tenha liberdade de decidir se quer ser mãe ou não, se quer ser mãe cedo ou tardiamente, até se quer ter filhos!  E assumir tais decisões sem passar para uma categoria de pária na sociedade.

Sem o inconformismo da mulher que hoje tem mais de sessenta anos, uma jovem do século XXI sequer poderia expressar alto e bom som, e não ser punida e depreciada, por exemplo que detesta serviços domésticos: ela não tinha possibilidade de escolha.

As conquistas são inúmeras; as citações acima são alguns poucos exemplos. As batalhas foram vencidas com inteligência, coragem, teimosia, idealismo, exageros necessários, ajuda mútua; a luta ainda não terminou e as jovens de hoje estão engajadas nela, só que já nasceram e cresceram numa sociedade mais justa do que suas mães e avós. Não há como não admirar e respeitar e ser grato às mulheres velhas!

(*) Maria Celia de Abreu é psicóloga, coordenadora do Ideac e autora de “Velhice – Uma nova paisagem” (Ed. Agora)

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