Num dia chuvoso a chuva é apenas um de seus aspectos. O dia de chuva tem seu matiz, o silêncio próprio, longe melodia, uma atmosfera. Não se matam porcos num dia chuvoso, e os passarinhos, se houver, voam baixo, até alcançar o muro onde estancam, sós. Ou sobem a alturas inimagináveis, se a paixão pela sabiá do vizinho o eriça ao ponto de fazê-lo vencer o vento e rasgar piruetas no espaço, menos por exibicionismo, mais pela combustão própria das paixões emplumadas.
As paixões resistem a torrentes de água, embora se ressintam de resfriamento e distâncias, é quando degelam, são a própria chuva. Não seriam paixões não fossem as idiossincrasias, rechaçadas pelo amor, esse senhor de gravata do lado de lá da calçada, uma mulher estrangeira fluente em línguas as mais diversas, algumas a léguas de qualquer entendimento voraz. Mas o amor já é outro assunto, não obedece a variações climáticas, borbulha nas quatro estações, se expande nas dimensões do tempo, esculpido nos dias, meses, anos. Há que se embranquecer os cabelos para atingir este entendimento e usufruí-lo sem sustos desnecessários ou piruetas acrobáticas.
A paixão dispensa grandes espaços, são as entressafras que exigem latifúndios.
A chuva talvez seja a cabeleira prata do verão.
O amor maduro é o latifundiário.
Texto de: José Santana Filho
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Que jeito incrível de expor essa ideia, parabéns.
Que delicadeza pra falar de amor