Histórias inventadas

Ao redor da fogueira, a magia da voz numa atmosfera aconchegante; aos poucos é possível tecer na imaginação de quem escuta e de quem narra histórias: medo, alegrias, coragem, desafio, confronto, situações novas/velhas que tornam possível compreender o desconhecido que nos habita. No passado, o contador de história era uma pessoa importante e respeitada, colaborando ao alimentar as psiques através das narrativas: “…era uma vez um menino que se perdeu na floresta…”; “…depois de muitos séculos, a menina acordou…”; “…a avó foi buscar a caixa guardada no porão e…”; “…o avô subiu na árvore e conseguiu pegar…”.

E assim foi por muitos anos: histórias, lendas, contos, fábulas; narrativas reais ou imaginárias expressas através de desenhos, imagens que destacam espaço, tempo, modo, motivo e resultado. O resultado sendo singular para cada ser humano, uma vez que ele depende da sua imaginação, interação com o conteúdo relatado/escrito ou esboçado pela imagem.

Bisa Bia Bisa Bel Ed3 [Ana Maria Machado, 2007]. Um livro que narra o encantamento de uma menina que, no imaginário, com sua bisavó e sua bisneta, desenvolve o aprendizado de conviver com ela mesma em três tempos – o diálogo da Bel com sua avó, Bisa Bia e depois com a futura bisneta – tudo junto, no mesmo tom do real com a imaginação…

Um livro imperdível para netas, avós, bisavós ou para quem acredita nas mudanças através das leituras; do contar conto aumentando outro conto; que é possível sonhar, buscar, brincar, dar risada, inventar, pular e saracotear com a imaginação.

Toda criança esbarra num contador de histórias – pais, avós, tias, primos, vizinhas, amiga dos pais, professora, uma irmã mais velha ou mais nova – bom, acontece… As histórias contadas ficam armazenadas na memória num lugar secreto: um jardim secreto, uma jarra de cristal, um pote de lembranças, uma cristaleira de memórias. Às vezes, inventamos títulos para nossas histórias; e assim podemos acreditar que os contos recontados nos alimentam até no nosso envelhecimento. Eles nos alimentam e nos acolhem, nos abraçam com profundidade e nos lembram que é possível sonhar com a memória viva dentro de nós, cuidando de nós mesmo e dos outros!

Parabéns a todos os avós! 26/07/2023 – Dia dos Avós

Aquarela

Toquinho, 1983

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo

Com o lápis em torno da mão
E me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos tenho um guarda-chuva

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota a voar no céu

Vai voando
Contornando a imensa curva, norte, sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco à vela branco, navegando
É tanto céu e mar num beijo azul

Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar

Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
E se a gente quiser
Ele vai pousar

Numa folha qualquer
Eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida

De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo

Um menino caminha
E caminhando chega num muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente o futuro está

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença, muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar

Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim descolorirá.

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo (que descolorirá).

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