Cleide Martins (*)
Era uma vez, um homem chamado Esopo… que viveu há muitos e muitos anos atrás, lá na antiga Grécia, onde moraram outros grandes sábios da humanidade. Ele viveu nos anos 600, antes de Cristo. Dizem que ele era tão sabido, mas tão sabido, que suas fábulas ficaram conhecidas no mundo inteiro, sem nunca escrever nada, apenas inventando e contando. Vejam só, num mundo sem livros, sem celular, nem internet não era fácil ficar famoso. Mas ele ficou. E alguém sabe por quê? Porque ele tinha o dom de ensinar, através dessas fábulas, lições de moral, de um jeito simples, claro e fácil de memorizar.
Esse jeitão dele ajudou outros, com o passar dos anos e até nossos dias, a conhecer virtudes importantes para vivermos em sociedade. Quem vai negar que ser honesto, falar a verdade, perseverar e ser humilde faz bem aos homens, mulheres e crianças? Essas atitudes eram valorizadas em sociedades que nasciam junto com ideais e princípios como democracia, república, fraternidade e igualdade. Eram urgentes de serem cultivadas. Se hoje ainda não conquistamos plenamente esses tesouros para vivermos humanamente, imaginem como era utópico na época.
Mas, voltamos à nossa história das fábulas, lendas e de como chegaram até nós. A transmissão oral, dessas coisas importantes eram passadas, em geral, pelas bisavós, avós e mães – cabia às mulheres essa responsabilidade, embora os autores das narrativas fossem em maioria, homens – aos filhos(as) e netos(a), através dos tempos, em todas as culturas. Assim se aprendiam os princípios morais e éticos elevados para os homens de bem. Em contrapartida, condenavam-se as atitudes arrogantes, mentirosas, invejosas, preguiçosas e outras vividas pelos personagens perversos que sempre se davam mal.
Esopo foi quem criou as fábulas universais, como: A Raposa e as Uvas. Quem nunca usou a expressão: É as uvas estavam verdes …? Lembram da Cigarra e a Formiga? Preferiu ficar cantando por aí como uma cigarra … agora passa fome. Incorporamos essas e outras aprendizagens em nossa vida, sem saber de onde vieram. Tantas outras conhecidas, são da autoria de Esopo como A Lebre e a Tartaruga; o Lobo e o Cordeiro que muitos conhecem, certo? Pois é, elas serviram de inspiração para escritores pioneiros, que lhe seguiram, como La Fontaine e Irmãos Grimm que se encarregaram de adaptá-las nas diferentes culturas. No Brasil, Monteiro Lobato as trouxe e acrescentou uma riqueza de personagens l endários do nosso folclore, através das peripécias de Emília e Pedrinho no Sitio do Picapau Amarelo.
Não são apenas as crianças que aprendem com Esopo e os louváveis escritores que o imortalizaram. Na idade adulta e na velhice, temos a chance de aprimorar nosso autoconhecimento, chega o momento de responder perguntas como: quem realmente somos e para que somos. Cigarras ou formigas? Lobos ou coelhos? Às vezes um, às vezes outro? Nessa altura da vida, cumpridas as tarefas da infância, adolescência e adultos jovens, conforme nos esclarece Erik Erikson (1), adentrando em novas fases da existência, podemos começar a experienciar a generatividade e a autotranscedência.
Essas atitudes são reservadas aos velhos nos contos de fadas, histórias e fábulas, não importando o gênero literário. Psicólogos do Desenvolvimento humano procuram responder à pergunta: quais os símbolos estão por trás dessas narrativas e perduram por tantos séculos, nas mais diferentes culturas orientais e ocidentais? As respostas encontradas ajudam nesse processo de autoconhecimento e individuação.
Carl G. Jung e seus seguidores (2) – incluindo aqui os estudos da mitologia – destacam a importância de reaver figuras habitantes do nosso imaginário, sejam elas reais ou não, heróis, heroínas, vilões, príncipes, sapos, deuses, são partes integrantes de nosso ser.
É muito interessante observar o quanto as virtudes, exaltadas nessa imensidão de contos, foram incorporadas em nosso jeito de ver e se colocar no mundo. O lado sombrio da humanidade, da mesma forma, é evidenciado e não podemos negar, faz parte do agir cotidiano. Para quem está na fase de vida dos sessenta, setenta ou oitenta mais é uma experiência rica reconhecer-se na figura do “velho sábio” ou do “velho bruxo”, dependendo das circunstâncias… Sim, estamos representados nas histórias, fábulas, lendas ou mitos universais, se quisermos olhar com olhos de ver.
Fica feito o convite. Vamos continuar essa conversa e trocar mais histórias coletivas sobre as virtudes e suas sombras? Quais são as que habitam nossa memória? Será possível encontrar tesouros e segredos escondidos em nossa própria história individual?
Autores citados:
- Erik Erikson– O Ciclo de Vida Completo
Sobre Erik Erikson – Vídeo aula de Dra. Maria Celia de Abreu disponível no canal do Ideac no Youtube: O Novo da Velhice.
- Carl G. Jung e seguidores:
Allan B. Chinen – Era uma vez; Once Upon a MidLife.
Bruno Bettelheim – A Psicanálise dos Contos de Fadas.
Carl G. Jung – Memórias, Sonhos e Reflexões; O homem e seus
Símbolos; Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo.
Marie Louise Von Franz – A Interpretação dos Contos de Fadas.
(*) Cleide Martins é pedagoga Cleide Martins, Mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP e Especialista em Abordagem Junguiana.
Serviço
Segundas Intenções, Memórias e Histórias
Histórias, lendas e fábulas
Encontros sempre às segundas-feiras, com duas horas de duração
09/06 –Cleide Martins
Local: sede do Ideac, rua Pamplona 1326 cj 111.
Horário: das 14 às 16 horas
Informações e inscrições:
WhatsApp: (11) 94542-1858
contato@ideac.com.br
Custo: R$ 75,00 por encontro
Muito bom Cleide!
Tema não customer por aqui
Gostaria de ler outros textos seus nesta área
Ezio , sinto sua falta por aqui ! Seria tão rico trocarmos nossas histórias daqui e “alentejanas”… abraços!
Quem sabe agora ela escreve mais não é, Ézio? Abraços
Linda demais acima de tudo muito competente sucesso
Cleide é tudo isso e muito mais, um tesouro do nosso grupo. Abraços
Ótimo texto, Cleide! Obrigado por compartilhar!!
Valeu o retorno Vinicius, abraços
Muito significativo o conteúdo!
É uma forma de nos conhecermos melhor e de refletirmos sobre nossos propósitos na vida, trocando experiências! Gostei muito!!
Obrigado pelo retorno Nanci, é importante essa troca e reflexões sobre o tema. Abraços
Cleide adorei seu texto.
Aguçou ainda mais a vontade de fazer as Segundas Intenções da próxima segunda feira!!!
Já me inscrevi para não ficar sem vaga
Que bom Marli que você vai. Você é sempre uma presença querida e especial, abraços
Muito pertinente o tema escolhido por você Cleide para trabalharmos a memória e fortalecer o cérebro nos desafiando nesse universo tão fabuloso e interessante.
E olha que você entende bem disso não é? Acreditamos que esse tema vai trazer muitas reflexões. Abraços