Lavrar a Palavra: brotar.
Em junho passado encerramos a terceira turma do grupo PaLAVRA!, a oficina de escrita que coordenei no Ideac a partir do segundo semestre do ano passado, destinada não apenas a quem tem interesse formal pela escrita, mas a quem se apraz no manuseio da palavra, em busca de renovação e novas experiências. Três turmas e vários palavreiros depois, já dá pra discorrer sobre este cultivo, o intercâmbio de palavras entre mim e a gente laboriosa que compôs os grupos.
Quando defini esse título: PaLAVRA!, aludia ao desejo de montar mesmo tal lavoura, enfatizando o sentido do verbo Lavrar, com a exclamação(!) convocando à lida, imperativa, sem deixar de eleger por um só momento o caráter livre e lúdico da empreitada. Para que pudéssemos reconhecer a semente da qual dispúnhamos, sendo fieis a ela e abertos a qualquer aprendizado natural ao processo de se estar em plantio. Neste aspecto, o Ideac se mostrou mais uma vez a leira de terra exemplar, em função de sua vocação natural para acolher e fazer brotar o que guardamos de melhor, de mais tenro em qualquer idade, proporcionando a atmosfera ideal para os acontecimentos.
Foi aí que se deu a plantação. Vieram palavreiros das mais diversas searas, erguendo a cada vez a sua plantação única, própria, e ainda assim comunicante com as demais, portanto este complexo lexical. Logo se identificou aquele ali, afeito a mangueiras sombreadas e laranjais floridos, abundância de galhos e letras, par a par com a palmeira esguia de poucos galhos e funda raiz, bem ao lado do caramanchão, o mandacaru, girassóis em flor, melissas e brotos de feijão, novas e antigas memórias, recordações e fábulas, tudo em floração no papel ou na telinha acesa de súbita fertilidade.
Para mim, colono da palavra, foi um susto bom constatar certa facilidade em partilhar esta experiência, e no papel de coordenador, apenas possível em função da qualidade dos meus pares, de seu entusiasmo e empenho, idades as mais variadas, alinhavados todos pelo mesmo fio de descontração, respeito e o afeto que foi se estabelecendo a cada encontro, a cada nova lavra, tornando-nos, ao final, membros da mesma tribo composta de terra, letras, entrelinhas, subtextos, sinais gráficos e a dispensa deles, palavras, palavras, e o mais harmonioso silêncio.
A todos e a tudo que nos aproximou, que fez chover e secar e chover e estiar de novo, o meu agradecimento nas letras de Rainer Maria Rilke:
“Não sou senão uma de minhas bocas;
Sou uma árvore ante o meu cenário.”
Foi bonito.
Tem sido.
Até a próxima vez!
José Santana Filho
Foi uma bela e intensa lavoura . Lavramos, semeamos e colhemos . Que se repita para que mais lavradores se alimentem ! Abraços .
Sem palavras!
Foi muito especial este encontro com as paLavras de cada um do grupo. Pessoas interessadas e cada qual com seu repertório, criando. Valeu muito! Que venham outros encontros! Muito obrigada ao Santana pelo empenho!
Bravos!