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Memória: o que podemos fazer enquanto indivíduo e sociedade para ela não ir embora

Alessandra Rodrigues Fiuza (*)

A perda de memória é uma das principais queixas no consultório de geriatria (a especialidade médica que estuda o envelhecimento e é formada para atender idosos, em toda sua complexidade). Muitos idosos trazem a queixa de não terem mais a memória como “antes” e muitas vezes no imaginário da maioria das pessoas a piora da memória faz parte do envelhecimento e até mesmo a demência é vista como inerente ao envelhecimento, mas será que isso é verdade?

Como geriatra, respondo prontamente que não. Temos sim algumas mudanças na memória relacionadas ao envelhecimento e que não são vistas como doença, são elas:

Dificuldade no processamento de informações (aquele sentimento de lentidão, como se o raciocínio fosse mais lento do que habitual);

Redução na quantidade de codificação e processamento por unidade de tempo (necessidade de mais tempo para fazer uma tarefa, mas executa a tarefa);

Dificuldade de nomeação (lembrar nomes de pessoas ou locais, mas depois de algum tempo ou em algum momento, consegue se lembrar);

Diminuição da capacidade de solucionar problemas e aprender informações novas (aquele aparelho de celular ou televisão novos que parecem um “bicho de sete cabeças”, mas que, apesar da demora, consegue aprender);

Diminuição da atenção e da concentração;

Dificuldade em realizar múltiplas tarefas (adultos que sempre fizeram muitas coisas ao mesmo tempo percebem que não apresentam mais essa expertise, o que pode gerar bastante ansiedade).

Você, leitor deve estar se perguntando: e como você disse que a idade e perda de memória não estão relacionados? Observe os itens acima, apesar da diminuição ou dificuldade em alguns processamentos cerebrais, todas as tarefas são executadas. A principal mudança é uma lentificação, um maior tempo de aprendizado de algumas tarefas, mas elas ocorrem. A grande diferença e o que nós, especialistas em envelhecimento, sempre tentamos afirmar: é que se as tarefas deixam de ser executadas pela falta de memória isso precisa chamar a atenção do idoso e de seus familiares, porque a perda de memória não é própria do envelhecimento e sim uma doença.

A doença da perda de memória é o que chamamos de demência, sendo a principal delas e mais conhecida, a demência por doença de Alzheimer. Essa palavra tão temida e tão pouco discutida, mas que é extremamente necessária para entendermos como podemos trabalhar nossa memória e como podemos tentar evitar a falta dela.

Não há uma única maneira de estimularmos a manutenção da memória, é uma tarefa multifatorial e complexa, mas considero como primeiro passo manter hábitos os mais saudáveis possíveis ao longo de nossa vida, tais como:

Evitar ou cessar tabagismo e etilismo;

Realizar atividade física regular (pelo menos 150 minutos por semana e algo que se goste, para que o hábito aconteça com prazer);

Alimentação diversificada e balanceada (tentar sempre comer o máximo de alimentos in natura – legumes/verduras/leguminosas/grãos/proteína animal ou vegetal; e evitar os ultraprocessados – em geral aqueles alimentos que não sabemos os ingredientes);

Tratamento das doenças crônicas de maneira adequada como diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia e depressão.

Essa importância fica clara quando nos damos conta que a não adesão aos hábitos citados acima, associados a baixa escolaridade, são fatores modificáveis e responsáveis por 30% dos casos de demência. Com isso, não quero dizer que só depende do próprio indivíduo manter uma boa memória, mas que o aumento da demência nos países em desenvolvimento é uma falha da nossa própria sociedade que não se prepara para o envelhecimento populacional e não prioriza projetos que estimulem o envelhecimento saudável, visando a manutenção da autonomia e da independência dos idosos.

Vale ressaltar que não só os hábitos saudáveis previnem a perda de memória, mas também o maior convívio e participação sociais, em atividades artísticas – teatro, música, pintura – e em núcleos de convivência – centro-dias e projetos para terceira idade. Esse engajamento social tem se mostrado cada vez mais como fator positivo para essa prevenção.

Em resumo, não há uma pílula mágica ou uma receita pronta para nos mantermos lúcidos e ativos (fujam desses medicamentos milagrosos e caros!), mas eu diria que para tentarmos envelhecer bem, temos que tentar viver bem, priorizando o nosso autocuidado e nosso bem-estar, com atividades que nos tragam prazer e nos desafiem a sempre buscarmos algo novo. E não menos importante, tentarmos entender que essa mudança não é apenas individual, mas de toda uma sociedade, que necessita ser mais igual para que todos possam ter acesso a esses hábitos saudáveis, não só na velhice, mas em toda sua vida.

(*) Alessandra Rodrigues Fiuza é médica geriatra, tem Residência de Geriatria pela UNIFESP e título de especialista pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Residência de Clínica Médica pela UNICAMP e formada na mesma universidade. Atua em atendimento a idosos em consultório, hospitais e em domicílio.

 

Vamos cuidar da memória?
E para quem quer exercitar a memória, lembramos que teremos nossos encontros Segundas Intenções, Memórias e Histórias, com a coordenação da psicóloga e gerontóloga Sônia Fuentes.

Encontros sempre às segundas-feiras, com duas horas de duração.

Local: sede do Ideac, rua Pamplona 1326 cj 111.

Informações e inscrições:

WhatsApp: (11) 94542-1858

 contato@ideac.com.br

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Cleide Martins
Cleide Martins
2 dias atrás

Informações preciosas ! Muito obrigada por compartilhar !