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Conheça um universo de informações para um envelhecimento saudável.

O ano novo começou. E agora?

 

(*) Maria Celia de Abreu

 

O ano novo começou, e não é por sermos velhos que não estamos incluídos nesse movimento de renovação. Ultrapassamos o Natal e o réveillon, os encontros de família, as festas de firma, as reuniões com colegas dos tempos de escola, as ocasiões de nos aproximarmos ainda mais das pessoas de quem gostamos. Demos alguns raros telefonemas, porque isso está fora de moda, escrevemos e-mails e gastamos horas infindas trocando mensagens de whatsapp.  Quem sabe, declinamos convites e optamos por nos recolher, curtindo estar sozinhos, só fazendo coisas de que realmente gostamos, do nosso jeito, sem prestar contas nem fazer concessões. Retornamos das viagens, guardamos cuidadosamente os enfeites que alegraram nossa casa, organizamos as fotos no celular e colocamos os presentes ganhos nos seus devidos lugares. E agora?

Agora, é hora de cada um fazer suas escolhas para viver a sua rotina. Ela nos permite uma longevidade boa de ser vivida. Este texto tem a intenção de ajudar o leitor a rever e organizar o que deve fazer parte dessa rotina.

Em primeiro lugar, é bom lembrar que só existimos porque temos um corpo. Portanto, é preciso dar muita atenção a ele. O que e o quanto comemos? Bebemos? Dormimos o suficiente, dormimos com qualidade? Nossa rotina inclui movimentos, talvez dança? Os exercícios aeróbicos, a musculação e alongamento estão sendo levados a sério? A carteira de vacinação está religiosamente em dia? As recomendações médicas estão sendo seguidas? Sabendo que nosso corpo transmite mensagens aos outros, provocam reações nos outros, estamos cuidando da estética, da aparência do rosto, pele, pés, cabelos etc, indo além das considerações com a saúde? Como vestimos nosso corpo?

Não somos só corpo físico. Temos outras dimensões, e cada uma delas precisa ser cuidada; precisa ocupar espaço dentro da nossa rotina. Somos seres cognitivos: aprendemos, abstraímos, raciocinamos, concluímos, memorizamos, tomamos posições em torno de ideias, criamos. Na nossa rotina, concedemos tempo e incluímos estratégias para novas aprendizagens? Quais são as fontes de informação que alimentam nosso cérebro? Quanto de tempo preenchemos com acesso a mensagens que não nos tornam pessoas intelectualmente melhores? Rotineiramente, lemos, seja literatura, seja conteúdos que realmente nos interessam? Rotineiramente, escrevemos? Estamos empenhados em aprender alguma coisa nova?

Não menos importante é a dimensão emocional. Emocional e físico se influenciam mutuamente e com intensidade. Nossa rotina precisa incluir cuidados com sentimentos e emoções: estratégias – e tempo – para irmos em busca de, ou criarmos, situações em que nossos melhores sentimentos sejam cultivados, como momentos de bom humor, atividades que provoquem pequenos prazeres, redes de apoio socioemocional. Para encontrar equilíbrio, precisamos apurar, aprofundar, renovar o que sabemos sobre nós mesmos, não importa quantos anos já tenhamos vivido. A habilidade de ouvir e de observar sempre podem ser aperfeiçoadas; elas permitem uma compreensão o mais realista possível sobre os outros e sobre nós mesmos. Quem sabe seja até o caso da rotina incluir uma psicoterapia, com um psicólogo que tenha familiaridade com os processos psicológicos do envelhecimento.

De mãos dadas com a parte emocional, está a dimensão social. Inclui os encontros, as trocas, os compartilhamentos, os diálogos, desde os que atingem um nível mais profundo, que são naturalmente mais raros, até os mais corriqueiros (como desejar “bom dia” ao porteiro do prédio, tratando-o pelo nome e querer saber se a cirurgia da esposa dele teve sucesso). As interações sociais não caem do céu gratuitamente: pedem planejamento e gasto de energia. O esforço vale a pena, porque a ciência já concluiu que incluir na rotina momentos e comportamentos que envolvem socialização é uma medida que tem muito peso para uma longevidade ser saudável.

Temos que pensar também em como incluir a dimensão espiritual na rotina ao longo do ano. Pode ser através de rituais prescritos por uma religião com a qual nos identificamos, ou por práticas de reflexão, leitura, meditação, ritos, feitos individualmente ou em grupo, não importa. É uma dimensão humana, tão valiosa como qualquer outra para a saúde, para a qualidade de vida, e talvez seja a mais negligenciada. Resolver questões espirituais, buscar resposta para essa ordem de indagações abstratas, são questões que se encaixam muito adequadamente como protagonistas nas últimas fases da visa, como os psicólogos do envelhecimento nos ensinam. O psicanalista Erik Erikson é um excelente exemplo, com sua teoria de desenvolvimento epigenético da personalidade.

Da reunião das dimensões espiritual, social, emocional – e não ignorando a física – decorre a consequência de decidir qual legado você quer deixar no mundo, depois que você não estiver mais nele. Determinar o que deve ser feito com seus bens materiais já é razoavelmente aceito entre nós; a ideia de testamento não causa ojeriza, embora poucos sejam os que de fato tomem essa medida. Um advogado ajuda muito para assessorar suas decisões e para você concretizar neste ano essas decisões, sob forma de um documento legal. Este ano que está começando bem que pode incluir essa feitura. Uma tarefa provavelmente mais penosa, mas bem interessante de ser feita, é deixar por escrito o que você quer que façam com você, se permanecer vivo, mas incapaz de se comunicar; e até mesmo o que quer que façam com seu corpo, logo que ele perder a vida. É o que se chama “declaração antecipada de vontade”, e que bem poderia ocupar seu tempo durante este ano. Feito o testamento, feita a declaração antecipada de vontade, você não precisa mais se dedicar a isso nos próximos anos.

Na rotina deste ano que começa, é fundamental abrir espaço para administrar suas finanças. Você acompanha metodicamente as entradas, os seus rendimentos? Se houver algum engano, é como você pode identificá-lo e corrigi-lo em tempo. Você tem uma boa noção sobre as áreas em que tem despesas, e em que proporção? Há um bom senso em seus gastos? Há equilíbrio entre o que entra e o que sai? Para dar essas respostas e, na medida do possível, disciplinar-se e harmonizar seu orçamento, é preciso gastar tempo, rotineiramente, fazendo acertos e conferências frequentes, metodicamente – mesmo que para muitos seja uma rotina desinteressante.

Transitando entre finanças, desenvolvimento cognitivo, socialização e realização emocional, que provocam saúde física, fica a dimensão do trabalho. Sua rotina é ocupada por trabalho remunerado? Sobra tempo para você incorporar em sua rotina os cuidados com as outras dimensões, ou ele ocupa um tempo exagerado, considerando sua fase de vida? O quanto trabalhar lhe dá de prazer, o quanto lhe traz de renda? Trabalhar é a única coisa que traz significado para sua vida? Você tem medo de deixar de trabalhar e experimentar um vazio grande, mesmo percebendo que já não rende no trabalho como deveria, e que ele é mais um peso do que um prazer? Você tem medo de enfrentar uma situação nova, desconhecida? O trabalho voluntário é muito adequado às últimas etapas da vida, quando já podemos devolver para a sociedade o que ela nos proporcionou; é uma possibilidade a ser incorporado à sua rotina.

Pois então, caro leitor… e agora? Vamos organizar a rotina? Quanta coisa a fazer! Embora sejamos pessoas mais velhas, o ano novo vai ser puxado… ou melhor dizendo: vai ser um ano pleno, denso, significativo, alegre, prazeroso, com conquistas e realizações, um ano que vai valer a pena ser vivido!

(*) Dra. Maria Celia de Abreu é psicóloga, coordenadora do Ideac e autora de vários livros, entre eles “Velhice, uma nova paisagem” (Ed.Summus)

Dica: Entre no Canal do Youtube do Ideac, O novo da velhice, e confira o curso online gratuito Cuidar de si, em quatro episódios, da psicóloga Dra. Sônia Fuentes:

https://www.youtube.com/@ideaconovodavelhice1445

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Cleide Martins
Cleide Martins
1 dia atrás

Nossa, quanta coisa hein? Você reuniu todos os aspectos de forma a não deixar brecha para fugir da como! Obrigada. Vamos lá pegar uma planilha e começar ! Obrigada!

Marli Corrales Henriques
Marli Corrales Henriques
1 dia atrás

Que texto maravilhoso!
Completo e importante para ser refletido neste inicio de ano!

Sónia Fuentes
Sónia Fuentes
1 dia atrás

Muito organizado seu pensamento MCelia. Que possamos reverberar toda essa aprendizagem em 2025.

Tatiana
Tatiana
1 dia atrás

Maria Celia, dessa vez vc conseguiu se superar, o que acontece em cada texto seu, verdade seja dita. Abranger todos esses aspectos, para mim, foi um mergulho! Em coisas que já faço, em outras que faço menos e em outras que sei precisar cuidar. Parabéns com todas as letras! Obrigado!

Maria Lucia Di Giovanni
Maria Lucia Di Giovanni
1 dia atrás

Muito bom seu texto, como sempre. Parabéns!
Ele é um estímulo, um alerta, uma orientação…
Estamos velhos mas vivos. Podemos nos manter na condução da nossa própria vida.

Jader
Jader
1 dia atrás

Trabalho não falta… boas dicas! Um 2025 de esforço a todos!

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