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O invisível, além das aparências

Por Suely Tonarque (*)

Desde 2019 eu faço parte de um grupo de mulheres e amigas que se encontram para bordar juntas, paramos apenas na época da pandemia de COVID-19. Esses encontros acontecem todas as quintas-feiras, das 14h às 16h na minha casa, que fica no Brooklin. O nosso bordado é sempre coletivo, ou seja, todas bordam no mesmo pano. E o que bordamos? Bem, o tema do bordado também é decidido coletivamente e, a partir dessa definição, procuramos leituras, filmes, reportagens, vídeos que abordem a temática e possam nos inspirar.

Já bordamos lendas; a espiral da vida; frases marcantes para cada uma das bordadeiras; percurso de um grupo artístico. Mas isso tudo é o que está visível no nosso bordado: as linhas de diferentes cores – azul, vermelha, amarelo, branca, verde – os diferentes pontos – haste, corrente, alinhavo, máquina, mosca, pirulito – fios e pontos que marcam o tecido através das escolhas e dos gestos singulares de cada bordadeira.

Não usamos bastidores para que que possamos ficar mais livres para tocar no tecido e poder “escutar” o que o pano tem a nos dizer. Coletivamente vamos embelezando o nosso cotidiano, expressando as emoções e dividindo histórias. Nesses encontros de bordado coletivo, é a vida que vai se compondo através do acolhimento, da escuta ativa e dos silêncios. A cada encontro vamos tecendo o bordado da nossa vida.  Criamos conexões, compartilhamos alegrias e tristezas e assim as dores da vida ficam mais fáceis de suportar.

 Sempre existe um empenho para que o pano fique bonito, porém o foco não está na perfeição das bordadeiras clássicas onde, por exemplo, o avesso deve que ser perfeito. Para nós, o mais rico é a conversa, a expressão singular de cada mulher para bordar por exemplo as flores, os pássaros ou uma casa por fora e por dentro. E o avesso? Isso não nos importa, respeitamos o avesso de cada uma e achamos falta de educação ficar olhando os avessos das pessoas.

 Desde o final de 2024 estamos trabalhando com o tema da ecologia, que surgiu a partir de uma conversa sobres os efeitos das mudanças climáticas.  É um tema abrangente e que tem nos possibilitado muita liberdade para bordar. Nossa meta é bordar em todo pano. Quando encerramos o encontro, gostamos de guardar as linhas e agulhas e esticar o pano para ter uma visão global do bordado. Sempre ficamos orgulhosas de nossas criações e nos espantamos com o todo que se apresenta; cada pedacinho bordado por uma bordadeira vai se compondo com os demais bordados e vamos percebendo o todo que está sendo criado.

Muitas vezes nem reconhecemos os próprios bordados. Realmente o coletivo se apresenta de forma única, ali já não vemos o bordado da Suely, da Bel, da Sônia, da Helena ou da professora Cláudia. Enxergamos o bordado das Claras (esse é o nome do nosso grupo). Paul Klee via a arte como um meio de revelar o invisível, tornando perceptível o que está além da simples aparência, capturando o espírito, a energia e a essência das coisas que escapam à visão direta. É desta forma que vemos o nosso bordado, uma arte que torna visível o invisível, a força do coletivo!

(*) Suely Tonarque é psicóloga, gerontóloga e especialista em moda no envelhecer

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Cleide Martins
Cleide Martins
10 dias atrás

Que lindo , Suely ! Amei saber que “olhar o avesso” é falta de educação ! Obrigada por compartilhar e confeccionar um mundo de relações tão especiais.

Valderes
Valderes
9 dias atrás

Que lindo Suely, o bordado das Claras e ” olhar o avesso ” deixa uma boa reflexão.
Parabéns ao grupo

Marli Corrales Henriques
Marli Corrales Henriques
9 dias atrás

Que Texto lindo, repleto de significado subjetivo.
Pensei na experiência, mais do que no bordado, pois esta troca entre as bordadeiras traz o grande valor!
Parabéns Suely

Ana Maria Faefo
Ana Maria Faefo
9 dias atrás

Que maravilha esse grupo das Claras, amei. Eu tenho um grupo das marguerita, inspirado na série as marguerita, maravilhosas. Mas achei o de vocês simplesmente maravilhoso.

Sónia Fuentes
Sónia Fuentes
9 dias atrás

Lindo Surly
Uma reflexão importante que nos fala da importância do coletivo, da amizade e da produção amorosa. Adorei

Tatiana
Tatiana
9 dias atrás

Su querida, uma linda inspiração de vida, passando para o bordado as emoções, sentimentos e habilidades, com respeito e linda solidariedade! Amei o que conseguiu me transmitir de amor no trabalho coletivo!

Jader Andrade
Jader Andrade
8 dias atrás

Que interessante!! As conversas devem ser ótimas! Bela iniciativa.

Edna Nyenhuis
Edna Nyenhuis
7 dias atrás

Sueli, emocionante esse seu pensar, suas ações e o viver, vocês fazem um mundo melhor e mais sustentável!!!

dearaujolucy@gmail.com
dearaujolucy@gmail.com
6 dias atrás

Suely, amiga querida, parabéns! Fiquei com uma vontade imensa em participar dos encontros das bordadeiras. Achei lindo a iniciativa de atividades tão prazerosa♥️

Júlia Bertoluci
Júlia Bertoluci
6 dias atrás

Suely, q lindo esses encontros. As Claras, alem de render um lindo bordado, devem render lindas conversas e reflexões. Vc é inspiração. Parabéns!

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