Textos de Yayá de Andrade (*)
(Compilação e tradução livre de M Celia de Abreu)
Minha antiga casa dava para um lago. Agora mudei para um novo lar.
Acabei de encontrar um texto que escrevi há dois anos:
“Estou olhando para o lago… Hoje ele está calmo. Ontem as ondas cantavam uma canção de vento. Minha atenção é atraída para o sol, que é brilhante, forte e quente. A temperatura continua a cair. E eu espero que caia um pouco de neve.”
É a estação do Natal, um tempo para se ficar em casa e pensar em todos os que nasceram e naqueles que morreram. Penso no passado, e meu coração ainda vibra com alegria, amor, esperança e generosidade. Lembro que muito tempo atrás minha mãe descrevia seus filhos dizendo: três morreram, quatro se casaram e uma foi para o Canadá…
O inverno chegou no Canadá, previsível como sempre. A natureza humana não é tão previsível… a despeito de todo o conhecimento e a experiência acumulados, paira um ar de desumanização entre pessoas, famílias, países, culturas e modelos de vida. Alguns dizem que os outros não estão certos, que não deveriam fazer o que fazem, viver como vivem, crer no que acreditam.
No meu modo de pensar, acho que vemos e compreendemos a vida através de nossas próprias narrativas, e estas diferem da narrativa sempre subjetiva de todos. Porém, todos pertencemos à mesma espécie – todos somos humanos – e a despeito de nossas incontáveis diferenças me parece importante que olhemos para o que temos em comum e aceitemos todas as diferenças.
Os contextos sociais são povoados de polarizações e de falta de aceitação; esquecemos a compaixão e a empatia quando nos deparamos com outros e só consideramos as diferenças entre nós. Encontro e converso com pessoas inteligentes que falam sobre si mesmas como se tivessem um véu que as impede de ver a realidade, como se na maior parte do tempo nós fôssemos incapazes de olhar para nós e para outros sem ideias pré-concebidas, não julgando.
De certa forma somos todos iguais, nosso funcionamento nos é comum, mesmo que sejamos (tão) deferentes em aparência, tradições, valores, objetivos de vida. Por exemplo, muitos de nós ainda não veem e não aceitam que somos todos vítimas em potencial e criminosos em potencial. A realidade da vida de cada um pode ser espelhada pela realidade da vida de qualquer um… somos como somos, e os outros são como eles são… sempre. Aceite quem você é e quem são os outros, em que você acredita, e que o que é “correto” para você pode ser o que é errado” para outros, e vice-versa, mesmo que a nossa verdade e a deles pode não ser sempre absoluta.
Neste comecinho de inverno no Canadá, em uma casa nova, me vejo aceitando que a vida é cheia de sofrimento, aceitando a impermanência, sentindo gratidão pela família, amigos e professores que compartilham a sabedoria Dharma, as Sanghas semanais e… a gata Mia. Assisti um vídeo do retiro Amida e as palavras de Bhaktika permanecem em minha mente.
Viver bem significa abraçar o sofrimento, nosso e de outros, sempre inspirando-o, e expirando amor e delicadeza…
(*) Yayá de Andrade é psicóloga e voluntária na Cruz Vermelha canadense, no setor de Segurança e Bem-estar
Realmente vivemos uma época em que a percepção das diferenças nos impede de termos relacionamentos mais soltos e saudáveis. Quando vamos Super essa dificuldade?
Difícil superar, mas temos que tentar, não? Abraços e um Feliz Natal
Acredito que todos temos a capacidade de admirar flores e ver a alegria da natureza produzindo essas lindas pétalas,cheirosas, que enfeitam nossas casas, e são tão diferentes….
É verdade e que bom que é assim, abraços e escreva sempre
Ótima reflexão para um balanço de fim de ano e recomeço! Obrigada!
Obrigado pelo retorno, as reflexões da Yayá sempre nos fazem pensar. Abraços e Feliz Natal