Suely Tonarque (*)
Cobrir o corpo (pertence a cada corpo com sua história e trajetória de vida) está nas ruas, nos museus, na mídia; gera uma grande movimentação econômica na indústria do vestir. No setor secundário, junto com a construção civil, a produção de energia, o setor automobilístico e alimentar – indústria das transformações, não surge vestir nas cabeças dos intelectuais. É uma questão superficial e muito pouco mencionada em congressos, lives, palestras. O vestir-se fica quase sempre nos últimos lugares da fila, uma luta em vão. Às vezes, frestas que se abrem…
Pronto!!! Desta vez ouve eco… a sua participação será efetivada! – dá até a impressão de que estamos recebendo um grande favor – uma bobagem ouvir a fala do Vestir-se (não nos vestimos!!!) – principalmente quando o discurso é “Vestir com os desafios do envelhecimento” (Suely Tonarque, Portal Edições).
Um desabafo: encaminhei meu currículo para um congresso – claro, com o objetivo de participar, de me fazer conhecer e de conversar sobre o corpo que envelhece, como ele se transforma e como o vestuário na velhice “muda”; não embeleza usar vestuário de 30 anos quando você tem 72 anos, ok?
Também, é claro que somos livres, e vestimos o que gostamos, sentimos e o que queremos: o principal é nos sentirmos bem e pronto!
Não fui aceita no congresso… Vamos abordar as doenças desta vez!
Segundo Simone de Beauvoir (1976), “a aparência do nosso corpo e do nosso rosto nos fornece uma informação mais segura. Como contrasta com a dos nossos 20 anos! Só que essa transformação é gradual, mal nos damos conta dela!”.
Algumas obras consagradas na história do vestir com arte e escolhas com as quais me identifico para me compor psiquicamente:
Chanel – Gabrielle Bonheur Chanel – série atual imperdível: “The New Look”;
Cristóbal Balenciaga – 6 episódios;
Entre outros e outras.
Envelhecemos e continuamos a nos vestir, a nos embelezar e ir em busca do desejo, do sonho de que é possível continuarmos jovens. Isso não é possível, não tem volta! Mas, o que importa é ter saúde (física e psíquica), amigos e ir atrás das vontades.
“Vestiu o maiô e o roupão, e em jejum mesmo caminhou até a praia. Estava tão fresco e bom na rua! Onde não passava ninguém ainda, senão ao longe a carroça do leiteiro. Continua a andar e a olhar, olhar, vendo. Era um corpo-a-corpo consigo mesma dessa vez. Escura, machucada, cega – como achar nesse corpo-a-corpo um diamante diminuto, mas que fosse feérico, tão feérico como imaginava que deveriam ser os prazeres. Mesmo que não achasse agora, ela sabia, sua exigência se havia tornado infatigável. Ia perder ou ganhar? Mas continuaria seu corpo-a-corpo com a vida. Nem seria com a sua própria vida, mas com a vida. Alguma coisa se desencadeia nela, enfim. E aí estava ele, o mar”.
Clarice Lispector, “Uma aprendizagem ou O Livro dos prazeres”, Editora Nova Fronteira, pág. 82.
(*) Suely Tonarque é psicóloga, gerontóloga e especialista em moda no envelhecer
Muito bom Suely
Como sempre levantando ótimas reflexões
Agradecemos o retorno Sônia, os textos da Suely sempre trazem boas reflexões, abraços