Por Maria Celia de Abreu (*)
A vida é feita de várias passagens que vamos percorrendo em suas diversas fases. Cada vez que a estrada nos introduz em uma nova paisagem, precisamos descobrir a melhor maneira de ultrapassá-la, de vencer obstáculos, e talvez o que já́ sabíamos no cenário anterior não nos sirva mais. É preciso reunir energias e entusiasmo e nos concentrar em apreender tais novidades, pois essa é a melhor maneira de conduzir essa viagem pela vida.
Do mesmo modo, precisamos contemplá-la com olhos curiosos, sem preconceitos, para desvendar suas belezas e amenidades. Porém, só teremos a liberdade necessária para descobrir qualidades se estivermos desprendidos das belezas e vantagens das paisagens anteriores. Se ficarmos relembrando como era belo o cenário que percorremos, e comparando com o que vivenciamos hoje, certamente teremos muitas decepções pela frente.
É preciso pensar que o novo costuma causar medo, e, para lidar com esse sentimento, usamos de muitas desculpas e até de incríveis subterfúgios para negar as novas fases, principalmente quando essa fase é o envelhecer.
Partindo dessa imagem da vida como o percorrer de uma estrada que atravessa diversas paisagens, fixamos o conceito de que cada fase tem suas características. A velhice é apenas uma dessas fases; não se define por acumular perdas em relação a momentos passados, mas por ter paisagens diferentes das já conhecidas! A chave para fazer uma viagem alegre, produtiva e saudável pela estrada sem volta da vida está em ter muita flexibilidade para se adaptar a cada nova paisagem e tirar de cada uma delas o que de melhor possa nos proporcionar.
Ter essa imagem na mente pode nos ajudar a encarar as características da velhice com mais naturalidade, perceber o perigo de estar encarnando o papel de vítima ou coitadinho e fugir dos pensamentos preconceituosos que geram comportamentos inadequados, entre outras vantagens
Numa linha de reflexão e de busca de autoconhecimento, sugiro que o leitor pense sobre as diversas paisagens que a estrada da sua vida já atravessou e descreva a si mesmo como é o cenário atual. Aquele que estiver disposto a mergulhar fundo nessa nova forma de considerar a velhice, sugiro que represente a sua paisagem atual graficamente; pode ser um desenho, uma pintura, uma colagem, uma instalação – o que a sua criatividade inspirá-lo a produzir. Esse exercício deve ser encarado como uma brincadeira, uma atividade lúdica, descompromissada, como fazem as crianças.
Em cursos e vivências que coordenei, já houve quem escreveu poema, tirou fotografias, montou maquete, inventou colagem sentindo-se um artista criador. Sem pressa, com leveza e alegria, caprichando, dando-se a oportunidade de fixar na memória essa nova imagem.
Se o leitor gostou da atividade, sugiro agora que a amplie, representando graficamente como gostaria que fosse a paisagem da sua próxima fase de vida. Só por hipótese, pois sabemos que não podemos ter controle sobre certas situações – mas sonhar é muito bom! Vamos tentar?”
(*) Maria Celia de Abreu é psicóloga, coordenadora do Ideac e autora de “Velhice, uma nova paisagem”
foto Jader Andrade
Excelente imagem ! Gosto de percorrer as novas paisagens !
Imagem de alegria e inovação. Ainda não a tenho concretamente, mas com certeza o descortinar da paisagem é positivo e alentador@ gostei muito do texto e vou espera-selo direto!