Maria Celia de Abreu
São Paulo, 2 de abril de 2023
Às vezes, o conceito que temos do artista plástico – alguém que trabalha solitariamente e produz telas e esculturas… muitas vezes algo estranhas… – não nos permite imaginar que ele possa, através de sua arte, criar um momento importante, carregado de significados e de afeto, na vida de um idoso.
Temos uma frequentadora assídua do Ideac, artista plástica, que encontrou uma maneira própria de conseguir esse feito: Lucy de Araújo e sua Oficina de Artes na Associação Brasil-Parkinson, em São Paulo.
Encontrei outra artista que descobriu o seu caminho e alcança o mesmo fim: Renata Bueno.
Formada em arquitetura pela FAAP em São Paulo, enveredou pelas artes plásticas exercendo-as sob múltiplas formas. Uma delas é sua grande habilidade em retratar pessoas, interpretando-as pelo olhar de artista, usando preto e cinza sobre uma grande folha de papel branca. Por iniciativa própria, ainda quando estudante, a jovem Renata, desde que a direção de uma moradia de idosos de baixa renda lhe desse licença, frequentava o local, estabelecia um “rapport” com os moradores, pedia-lhes permissão para retratá-los, e nessa fase, enquanto o retrato ia sendo elaborado, à vista de todos, os diálogos iam rolando, risadas, comentários, queixas, recordações… Renata é uma excelente ouvinte e sua predileção é por histórias de vida. Portanto, facilitadora para uma boa dinâmica de grupo. Muitas semanas depois, quando todos os que tinham se voluntariado estavam reproduzidos, o ciclo de presença regular dela na moradia se encerrava, mas… quanta coisa tinha acontecido ali, quantas alegrias, mágoas expressas, ressignificações de histórias de vida, interações entre os moradores, formação de laços afetivos, vaidades justamente alimentadas, percepção de si mesmo como merecedor de ser valorizado. O ciclo do trabalho de Renata Bueno se encerrava, deixando uma herança positiva para a autoestima individual e o clima de grupo.
Os caminhos da vida levaram Renata a encontrar um companheiro igualmente criativo e ousado, Daniel Medina, e juntos tiveram o Tomás. Esse trio foi conhecer a Índia, morou por um tempo em Amsterdã, e há sete anos está estabelecido em Montemor-o-Novo, uma encantadora cidade portuguesa, perto de Évora, com cerca de 12 mil habitantes. Estive em Portugal e fui até Montemor-o-Novo ver a exposição “Vínculo da Vida”, na igreja do convento de São Domingos.
Renata Bueno, a par de sua produção em formas diversas de arte, continua a fazer diferença para pessoas idosas. Retrata os frequentadores da Associação dos Reformados e Pensionistas de Montemor-o-Novo, e os combatentes da Segunda Grande Guerra que se encontram regularmente em um café local. Com o apoio da Câmara Municipal, são feitas exposições dos retratos, não só no centro da cidade, como em vilarejos nos seus arredores, motivo para muitas movimentações sociais e culturais: formam excursões para visitá-las, levando os moradores a saírem de suas rotinas e ir até lugares próximos que poderiam ser frequentados por eles, mas lhes eram desconhecidos; no local, fazem apresentações tanto de grupos musicais, como de coral; os familiares dos retratados são motivados a conhecer detalhes da vida de seus idosos, pelo simples fato deles estarem retratados; e assim por diante.
Acho fantástico que um artista use sua criatividade para produzir arte e ao mesmo tempo fazer diferença na vida de pessoas idosas, com repercussão para a comunidade!
Texto de: Maria Célia de Abreu
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Excelente reflexão . Conheço o trabalho de Lucy e assino embaixo !
O chamado da arte explode dentro do artista. Ele mal tem outra opção a não ser se revelar . Parabéns às artistas citadas!
Que presente Maria Celia! Que vida linda da artista, como ela contribui aos idosos, fazendo-os felizes com a arte! Parabéns pelo lindo texto!
Maria Célia, parabéns, pelo texto que apresenta e reflete sobre o trabalho da Lucy e da Renata. Fazem da sua arte o caminho para a comunicação, a valorização e a ajuda. Sem dúvida há muita capacidade de perceber o outro nos olhos das duas artistas… e nos seus também!
Fazer a diferença na vida de outras pessoas é revelar a importância que se dá à vida.
Fiquei encantada com o trabalho .