O que é homem ?
Esta pergunta levou René Descartes, no século XVII, a inaugurar o caminho para o desbravamento do corpo humano de modo sistemático, separando-o em pedaços que nos séculos seguintes foram mais e mais esmiuçados.
A estruturação gradual das diversas especialidades levou a Medicina a se aprofundar na compreensão detalhada dos diversos órgãos, da sua fisiologia e das condições patológicas a eles relacionadas. Se por um lado isto favoreceu o controle e a cura de doenças, bem como de sua prevenção, por outro, levou a um afastamento da visão clássica e integral do ser humano.
A despeito da multiplicidade de especializações, o ser humano se mantém como corpo e mente (ou psiquismo) que ocupa um espaço social, tem necessidades espirituais e está inserido em um contexto cultural específico. A Geriatria precisou resgatar este olhar para organizar a atenção e o cuidado ao ser humano que envelhece.
O pioneirismo da médica britânica Marjory Warren, nas primeiras décadas do século passado, buscando entender o variado processo do envelhecimento humano, foi fundamental para a solidificação de conceitos que se tornaram pilares para o trabalho do geriatra: “prevenir doenças, sempre que possível”, “reduzir as complicações clínicas das doenças ao mínimo”, “obter e manter o máximo da autonomia e independência do paciente”, “ensinar o paciente a adaptar-se às suas disfunções” 1.
A Geriatria, enquanto especialidade, não foi valorizada rapidamente. Conquistou destaque na medida em que a população idosa aumentou. A observação apontava que determinados grupos de idosos eram frágeis, ao mesmo tempo que outros eram autônomos e independentes. Entre esses dois extremos se constatou um largo espectro de apresentações.
Um dos fatores que estimulou o desenvolvimento de um olhar preventivo para o processo de envelhecer foi a observação de que os frágeis requeriam maior investimento financeiro em seu cuidado, seja por usarem mais medicamentos, sempre elevando o risco de complicações; seja na ajuda para os cuidados básicos por terceiros, familiares ou contratados; ou seja em um número maior de hospitalizações. Os demais, por outro lado, tinham demandas e custos menores, proporcionais ao seu grau de autonomia e independência.
Cuidar de um paciente idoso é para o profissional médico uma oportunidade ímpar de aprendizado e surpresa, dada a heterogeneidade da passagem dos anos para cada um.
É sempre gratificante descobrir, junto com paciente e familiares, o melhor a ser feito diante de uma condição clínica, seja ela patológica ou apenas relacionada a uma alteração própria do envelhecimento. Descobrir, junto com paciente e familiares, o melhor a ser feito ao longo do processo, fomentar boas escolhas, orientar medidas preventivas e adequar as abordagens disponíveis às necessidades individuais, que variam ao longo dos anos, são medidas fundamentais para que um paciente viva da forma mais saudável possível.
Acompanhar aqueles que se avizinham da terminalidade, protegendo-os contra exageros e orientando quanto a preservação da dignidade, enaltece sobremaneira o fazer médico.
Ser, em alguma medida, agente de construção e vigilância de políticas públicas, e divulgador de ações preventivas e curativas proporcionais, complementa o papel do geriatra na sociedade.
Como em qualquer área, o estudo e a prática são necessários para o aprimoramento da técnica, que não deve se afastar, em sua aplicação, do entendimento o mais completo possível daquele que envelhece e/ou adoece. Entender um homem velho, em suas diversas dimensões (biológica, psíquica, sociofamiliar, cultural e espiritual) é pois, aprender a lê-lo em aspectos que o constituem como único.
Poder participar de grupos de estudos, e no meu caso do IDEAC – Instituto para o desenvolvimento educacional, artístico e científico, permitiu-me ampliar e apurar meu olhar para o envelhecimento em si, bem como para o meu próprio. As ricas discussões, as trocas de camaradagem entre colegas, o ineditismo dos cursos oferecidos, num ambiente saudável e amoroso, por certo contribuem para que, enquanto médico, eu possa cuidar melhor do outro e de mim.
Jader Santos Andrade
Médico
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Referências
1. Warren M. W. (1951a). Geriatrics. In Tidy Sir Henry, Short A. Rendle (Eds.), The medical annual (pp. 108–112). Bristol: John Wright & Sons
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Muito boa sua narrativa de viver e aprender sempre