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Vamos valorizar nossas histórias familiares?

Os mais velhos têm um legado precioso que deve ser compartilhado com os familiares: resgatar histórias, curiosidades e personagens que fazem parte da trajetória da família.

A psicóloga Maria Celia de Abreu, coordenadora do Ideac, destaca que é preciso entender que nada  dura para sempre e um bom caminho é desenvolver flexibilidade para aceitar as mudanças que chegam com a passagem dos anos. Essa afirmação também vale quando pensamos na família: “A família é um organismo vivo e, portanto, está em mutação. Constatar isso costuma nos entristecer… porque não queremos perder o convívio com certas pessoas, nem que elas estejam bem e felizes, só que longe”.

Para evitar a tristeza, Maria Celia propõe: “Em vez de pensar em perda, por que não focalizar a atenção na transformação? Parece que nossa cultura nos educa mais para aprovar a rigidez do que para aceitar a transformação… e nossos medos do novo e do desconhecido são maiores do que nossa capacidade de ser flexível. Estou falando de um momento em que muitas famílias precisam encarar um formato novo que chega com a passagem dos anos”.

É aí que a capacidade de adaptação a situações novas e a flexibilidade, são postas à prova. É bom saber que este é um importante fator da saúde mental, em oposição à rigidez, e também que não é um dom recebido de graça: é uma característica a ser buscada, cultivada, batalhada.

E Maria Celia recomenda: “Claro que em toda mudança há perdas. É preciso reconhecê-las, para se ter uma boa relação com a realidade. Porém, em vez de ficar lamentando e enfatizando as perdas, pode-se aproveitar para rever alguns valores da família e para crescer. Não é fácil aceitar que cada um sonha e constrói a sua trajetória de vida; não cabe a ninguém impor a outro seus próprios sonhos. Essa é uma das formas de manifestarmos prepotência, sem dar espaço ao tão difícil respeito pelo outro. A família tem de encontrar outros caminhos para manifestar esse amor: uma oportunidade de se renovar sem perder a qualidade.”

A psicóloga propõe uma atividade gostosa que pode ser realizada quando as pessoas de uma família se reúnem: narrar episódios que marcaram aquelas vidas. Com as imposições da cultura atual, em que todos os adultos trabalham fora de casa, crianças e adultos correm para lá e pra cá a semana inteira, e o lazer é feito diante da televisão ligada, situação pouco propícia a se bater papo e jogar conversa fora, as histórias de vida dos membros da família são pouco compartilhadas e até mesmo ficam guardadas só para aquele (ou aqueles poucos) que a vivenciou.

Maria Celia diz que isso é uma pena, porque conhecer e dividir essas histórias tem um significado muito importante, tanto para cada indivíduo, como para dar uma determinada “cara” àquele grupo familiar, criando-se um verdadeiro “folclore” familiar. Os mais velhos se sentem valorizados; confirmam, em seu íntimo, que cumpriram sua missão enquanto adultos jovens; ocupam o espaço simbólico a que têm direito dentro daquele grupo familiar.

Os mais jovens percebem os mais velhos com todo o seu valor, o que é dado por uma visão em perspectiva, uma visão histórica daquela determinada trajetória de vida, muito mais do que a partir de uma “fotografia” de como aquela pessoa é hoje. Os mais jovens também ficam assegurados de que “fazem parte”; conhecer suas raízes dá uma inestimável sensação de segurança e a percepção de que lhes cabe uma missão de continuidade no todo da trajetória do universo”.

Quando episódios do passado são ventilados e compreendidos, abre-se a possibilidade de vê-los sob novos ângulos; se os fatos não podem ser modificados, a interpretação que se dá a eles pode. “Desse modo, eventos esquecidos são devidamente revalorizados, a importância de outros é minimizada, perdas sofridas podem passar a ser melhor aceitas, pessoas que causaram mágoas podem ser compreendidas e até perdoadas. São experiências muito positivas para a saúde emocional, para o crescimento interior, e para um alargamento de horizontes”, conclui a psicóloga.

(Foto JillWellington/Pixabay)

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