CONVERSAS SOBRE IDADISMO
Maria Celia de Abreu
São Paulo, junho de 2023
Uma introdução
Como vocês sabem, estou sempre procurando entender o envelhecimento; nessa lida, incontáveis vezes eu esbarro no conceito de idadismo. É um fenômeno muito importante, sobre o qual há muita carência de reflexão; só foi detectado em tempo recente, portanto é passível de lacunas de informações; pensando em tudo isso, procurei reunir em alguns textos curtos um resumo de principais questões despertadas pelo idadismo, textos esses a serem postados aos poucos no blog do Ideac. Espero que sirvam para sistematizar conhecimentos, estimular reflexões e embasar ações de todos nós que nos interessamos por estudar o desenvolvimento humano na etapa do envelhecimento.
O texto de hoje é sobre conceito de idadismo, origem da tomada de consciência desse preconceito, e os vocábulos usados para expressá-lo.
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Primeiro texto: conceito, origem, vocábulos
Conceito
Idadismo significa discriminação baseada em idade cronológica. Aparece em situações em que a idade é o fator decisivo para a tomada de decisões e para a manifestação de comportamentos. Partindo da percepção que se tem da idade de uma pessoa ou de um grupo, (a qual pode ou não corresponder à verdadeira idade cronológica da pessoa ou das pessoas), são feitas inferências sobre suas competências e habilidades biológicas, sociais, emocionais e cognitivas; essas inferências determinam comportamentos relacionados com essa pessoa ou grupo, sem levar em conta se tais competências ou habilidades têm um respaldo na realidade, nos fatos.
Essa discriminação pode se manifestar em relação a qualquer grupo classificado pela idade, mas, quotidianamente, é empregado com muito maior frequência referindo-se ao velho.
Racismo, sexismo e idadismo são os três preconceitos mais frequentes nas culturas ocidentais. É interessante pensar que qualquer pessoa pode ser vítima do idadismo, desde que viva anos suficientes para alcançar a velhice; com os outros dois preconceitos, racismo e sexismo, já não é assim. Os três são muito pesados entre nós, mas o idadismo é o mais universal deles.
Origem do termo
Partindo de “age” (“idade” em inglês), “ageism” foi criado em 1969, por um médico norte-americano, geriatra e psiquiatra, chamado Robert Neil Butler (1927-2010).
Acho interessante ter noção da importância desse homem. Em 1982, criou o primeiro departamento geriátrico, a nível nacional, na escola de medicina Mount Sinai, em Nova York. Foi o primeiro diretor do Instituto Nacional do Envelhecimento (National Institute of Aging), ligado ao departamento de saúde norte-americano, que trabalha com necessidades sociais e direitos do idoso. Ao longo de sua carreira, publicou vários livros e fez pesquisas sobre envelhecimento saudável e sobre demências, em especial Alzheimer; em 2009, aos 82 anos, participou de um documentário sobre efeitos positivos da arte para quem é portador desse distúrbio.
O evento que levou Robert Butler a detectar a força com que o preconceito contra o velho era latente na sociedade norte-americana ocorreu nas proximidades de Washington, quando uma empresa planejou construir uma moradia para idosos pobres junto a um bairro rico. O texto que ele publicou no periódico da Washington School of Psychiatry and George Washington University Medical School, fazendo considerações sobre esse episódio de 1969, é tão sério, denso, importante (e… atual!), que acho fundamental tomar conhecimento direto dele. Por essa razão, me atrevi a traduzir alguns parágrafos iniciais, que vão compor a próxima postagem que farei no blog do Ideac, dentro desta série sobre aspectos do idadismo.
Escolha de um vocábulo
Para nós, que falamos português, idadismo, ageismo e etarismo são sinônimos. Como é um conceito recente, não percebo uma unanimidade na preferência pelo uso de um desses termos. Entra aí uma questão de escolha e eu fiz a minha.
Porque tenho muita estima pela minha língua materna, costumo me referir ao preconceito contra os velhos e a velhice empregando o vocábulo “idadismo”. “Etarismo” é uma boa escolha; depende de sua preferência. “Ageismo” atrai: um anglicismo vem com conotações de pompa e modernidade… como “sale”, “diet”, “lowcarb”, “fastshop”, “post”e tantas outras…, mas por isso mesmo esse é o vocábulo que eu menos uso. Já encontrei “idosismo”, que seria um bom termo, mas por alguma razão oculta não caiu nas boas graças dos usuários.
Há quem confunda idadismo com gerontofobia. Fobias não são falsas crenças, preconceitos nem estereótipos; são distúrbios psiquiátricos.
Foto: Sílvio de Abreu
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