CONVERSAS SOBRE IDADISMO
Maria Celia de Abreu
São Paulo, junho de 2023
Segundo texto: fenômeno salientado por Robert Butler
Este é o segundo post sobre Idadismo, dos quatro que quero colocar no blog do Ideac. Como já disse no primeiro texto, o evento que levou Robert Butler a perceber e denunciar que o preconceito contra o velho era muito forte na sociedade norte-americana, embora fosse dissimulado, ocorreu nas proximidades de Washington, quando uma empresa planejou construir uma moradia para idosos pobres junto a um bairro rico. O texto que ele publicou no periódico da Washington School of Psychiatry and George Washington University Medical School, fazendo considerações sobre esse episódio de 1969, chama-se Age-Ism: Another Form of Bigotry (Age-Ismo: uma outra forma de intolerância).
Acho fundamental, para quem quer se informar sobre idadismo, tomar conhecimento desse texto, por ele ser tão sério, denso, importante (e… atual!). Não o encontrei em português, talvez porque não tenha procurado muito. Então, pensando no leitor que tropeça um pouco no inglês, me atrevi a traduzir alguns dos seus parágrafos iniciais.
“ (…..)
Na opulenta comunidade de Chevy Chase, eventos recentes revelaram um complexo imbricamento de discriminação de classe, cor e idade que pode ilustrar o impacto dessas forças na vida da nossa nação.
Em 30 de janeiro de 1969, a National Capital Housing Authority, a agência de moradias públicas do Distrito de Columbia, ouviu boatos sobre sua proposta de construir a Regency House, um prédio de apartamentos bastante alto em Chevy Chase, para pessoas idosas pobres. Se finalmente aprovada, a Regency House seria o primeiro projeto de moradia para idosos no lado oeste do Rock Creek Park, a tradicional divisória entre pretos e brancos em Washington, D.C.
Os cidadãos de meia-idade e classe média de Chevy Chase se fizeram presentes tanto nos boatos como na reunião da Chevy Chase Citizens Association, numa escola pública, em 17 de fevereiro. Eles protestaram vigorosamente contra uma série de itens da proposta da National Capital Housing Authority. Alguns desses inflamados cidadãos demonstraram que eles eram capazes de praticar políticas de protesto e de confrontação de um modo tão definitivo quanto o de alguém jovem e descompromissado da sociedade.
Os residentes de Chevy Chase estavam irritados e raivosos por causa de uma proposta de oferecer o que eles consideravam moradia de luxo (havia uma piscina na cobertura da Regency House) para velhos que não estavam acostumados ao “luxo”.
Entre as declarações ouvidas na reunião e citadas pelo jornal local, temos: “Você iria abrir a porta para pessoas que não sabem como viver.” “Favelas são feitas pelas pessoas que vivem nelas.” “Isso (moradias públicas) têm que ser feitas em algum momento, mas não neste momento ou neste lugar.” “Eu não sou contra gente velha, acreditem em mim.” “Quem é que quer toda essa gente velha por perto.” Zoneamento, perda na entrada de impostos, custos e valores das propriedades também foram mencionados, mas estava claro que ali estava agindo algo mais forte do que questões sobre dinheiro.
Classe, cor e idade sempre têm sido partes da estrutura das comunidades norte-americanas. Desde a disputa do Public Housing Act de 1937, nós temos nos inclinado a aumentar as divisões dentro da América, separando os pobres e segregando os não-brancos (“non-white”). Hoje, mesmo existindo a Social Security, os velhos pobres são numerosos, e eles são frequentemente pretos. Nos anos recentes tem havido uma tendência também para segregação dos velhos de classe média em “comunidades para aposentados” e “moradias para idosos”.
A reação da vizinhança contra o uso da Regency House por velhos pobres carrega implicações que vão além de Chevy Chase. A explicação clássica ou que serve de bode expiatório para o preconceito gira em torno do esforço inconsciente para justificar as próprias fraquezas encontrando-as em outros – em outras raças, religiões ou nacionalidades. A insegurança pessoal, uma vez generalizada, torna-se a base do preconceito e da hostilidade.
“Age-ism” descreve a experiência subjetiva existente na noção popular de distanciamento entre gerações. O preconceito das pessoas de meia-idade contra o velho neste exemplo, e contra o jovem em outros exemplos, é um sério problema nacional. O “age-ism” reflete um desconforto profundamente enraizado por parte do jovem e da pessoa de meia-idade – uma repulsa à pessoa e uma aversão por ficar velho, por doença, incapacidade; e medo de não ter poder, de inutilidade e da morte.”.
É tempo de encerrar esta postagem. Depois deste trecho do texto de Robert Butler, nada mais há a ser dito. Vou dar ao leitor uns dias para reorganizar as ideias, tomar fôlego, e se recompor do choque que pode ter levado, antes que eu faça a terceira postagem no blog do Ideac.
Foto: Sílvio de Abreu
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