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CONVERSAS SOBRE IDADISMO – O idadismo pode passar despercebido

CONVERSAS SOBRE IDADISMO

Maria Celia de Abreu
São Paulo, junho de 2023

Terceiro texto: O idadismo pode passar despercebido

Nem sempre nos damos conta de nossos valores, sentimentos, pensamentos e das ações que veem em consequência 

O idadismo afeta nosso modo de pensar, via estereótipos, e nosso modo de julgar, via preconceitos; a consequência é um componente comportamental, são nossas ações, que vão ser discriminatórias. O idadismo consiste em tomar decisões tendo por base atribuir às pessoas idosas determinadas qualificações, sem se preocupar em constatar a veracidade delas. Dirige-se a grupos etários considerados globalmente, assim como a pessoas tomadas individualmente. Expressa falta de respeito e demonstra ignorância. 

Essas falsas crenças podem ser pouco conscientizadas, mesmo sendo frequentes. Uma delas é aquela que ignora a existência de diferenças individuais – um pensamento distorcido e simplificado que supõe que todos os membros de um agrupamento específico (por exemplo, das pessoas mais velhas), têm algumas características idênticas. Esse estereótipo usa a falsa generalização de que há comportamentos, habilidades, pensamentos, valores e características que são comuns a todos que têm a mesma idade. Desconsidera dados de pesquisas que demonstram que a heterogeneidade é um fenômeno intrínseco a todos os grupos etários (isto é, nem todos os adolescentes são iguais, nem todas as crianças são iguais, nem todos os bebês são iguais), mas é muito mais marcante nos grupos de mais velhos. Ignorar a heterogeneidade é uma das razões para que seja gerado o estereótipo do envelhecimento, do velho e da velhice. 

Os estereótipos normalmente diminuem e desvalorizam a pessoa idosa, embora também, com menos frequência, possam enaltecê-la; não importa: o fato é que são crenças falsas. É falso acreditar que alguém, só por ser velho, não aprende mais nada, assim como que alguém, só por ser velho, é sábio e bondoso.  

O idadismo está presente na sociedade em geral, nas instituições e empresas, dentro da família – e o próprio velho, inserido em uma cultura tradicionalmente idadista, assume estereótipos contra velhos.

Características comumente associadas ao velho, que não necessariamente correspondem à realidade dos fatos, são inflexibilidade, religiosidade exagerada, improdutividade, doenças, depressão, senilidade, fragilidade, assexualidade, falta de energia, incapacidade de aprender… Até crianças de apenas três ou quatro anos podem associar velhice com tristeza, solidão, feiura e doença.

Não quer dizer que as pessoas que compactuam com tais estereótipos tenham necessariamente ciência deles, nem que deliberadamente queiram prejudicar os mais velhos. Porém, continua sendo verdade que falsas crenças propiciam a adoção de comportamentos preconceituosos, discriminatórios. São pessoas que se educaram dentro de uma cultura que lhes incutiu determinados valores, e não tiveram ocasião, motivação ou energia para contestá-los. 

Assumem passivamente que na sociedade não há lugar para o velho, ele é um estorvo, e o melhor é que se faça invisível. Arruínam a autoestima da pessoa idosa e justificam o abuso e a violência contra ela. Como acontece com qualquer preconceito, há prejuízos para a qualidade de vida do indivíduo ou grupo discriminado, e perdas para a sociedade. 

Resumindo, o preconceito pode estar oculto no inconsciente de quem não tem intenção explícita alguma de prejudicar velhos, e no do próprio velho que é discriminado sem se dar conta. Pode ser expresso claramente, ou pode aparecer velado, disfarçado de boas intenções. 

Alguns exemplos

Uma manifestação comum de preconceito velado é o tratamento que infantiliza o velho. Quando se trata o velho por “fofinho”, “vovozinho”, “bonitinho”, “velhinho”; ou quando se diz: “Isso é complicado, deixa que faço pra você, não quero que se preocupe com nada” – está por trás dessa expressão de carinho a crença de que o velho é frágil, debilitado, idiotizado, incapaz de agir e decidir. 

Vamos ver outros exemplos de preconceitos que passam despercebidos, não estão conscientizados, portanto, são culturalmente aceitos, mas nem por isso deixam de ter consequências lamentáveis?

Quem me diz “Você é corajosa, você assume sua idade” está me dizendo que a idade em que estou é algo muito ruim, até aterrorizante; ou “Você está tão bem, ninguém diria que tem a idade que tem” acredita que quem tem a idade que tenho deveria estar totalmente decrépita, acabada, murcha. “Fulana já tem tantos anos, mas ainda tem um corpão” significa que um corpo bonito ou sensual só pode ser exibido na primeira juventude. “Não deixe o cabelo branco aparecer, mantenha-o tingido” indica que se deve fazer esforço para enganar os outros – quem sabe até a si mesmo – sobre a própria idade, por extensão sobre a própria identidade. O velho é levado a sentir vergonha de características naturais, universais, inevitáveis e próprias do processo do envelhecimento.

Outras manifestações comuns de idadismo são piadas e ironias que diminuem a pessoa idosa mas veem disfarçadas de um lance de humor; a rejeição à companhia do velho, acompanhada ou não de racionalizações e justificativas; ofensas e humilhações verbais, por exemplo chamar a pessoa de “velho” dando à palavra uma entonação pejorativa, mesmo que com uma roupagem de humor; não considerar a vontade do idoso, ignorando-o ou não o levando a sério; evitar tocar na pessoa idosa; sugerir que há atividades das quais o velho não deve participar; sugerir que o velho deve se conformar com limitações físicas e doenças, ao invés de ir em busca de compensações e cura; relacionar doença com velhice. Ao escolher quem vai preencher uma vaga de emprego, usar a idade como fator decisivo de eliminação, em favor do candidato mais jovem, desconsiderando as competências que cada um possa ter para a função.  

E assim por diante… 

O objetivo deste pequeno texto passa longe de esgotar exemplos de manifestação de idadismo, é claro, mas tem a modesta pretensão de, como diz o dito popular, colocar uma pulguinha atrás da orelha do leitor… ou, para recorrer a uma expressão mais intelectualizada, é um convite para você exercer a sua consciência crítica da realidade. 

Foto: Sílvio de Abreu

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