(*) Yaya de Andrade
Hoje o dia amanheceu lindo, e como sempre, eu fico sorrindo e pensando, agradecida, como sou afortunada pela vida, sempre, mesmo sabendo que vivi circunstâncias e perdas, desafios que não me deixaram ficar parada. Ou talvez seja uma forma de evitar a dor, a angústia de cavernas que se abrem no peito quando nos sentimos perdidas porque alguém morreu, um amor foi perdido, ou mesmo um plano não foi conseguido.
Mas como sou otimista, sempre acho que portas se fecham e portas se abrem, e sempre me conforta uma imagem: um rio onde em uma margem está o presente; na outra margem está o futuro, e temos que atravessar a ponte…
Enfim, estou lendo um livro interessante de uma psiquiatra que perde um filho na guerra do Afeganistão, e agora a filha está enamorada por um líder de um culto religioso. Ai ai ai. Vamos ver a novela como acaba, porque a impermanência pode, às vezes, confortar quando alguém está achando que “isso é demais.”
Como estava arrumando uma caixa de velhas fotos, elas trouxeram a memória de pessoas, lugares e situações. Até mandei uma foto para amigos que, com certeza, fizeram parte de uma fase da minha vida (e continuam sendo queridos) para identificar as pessoas da foto. Um grupo da faculdade, não consegui lembrar o nome de todos, mas lembrei da voz de algumas pessoas… a gente encontra tanta gente nas nossas aventuras que fica difícil lembrar (ainda mais nessa idade).
Eu me dei conta que amigos contaram sobre a morte de uma pessoa querida, uma empregada que sempre esteve na família. Tal perda sempre gera lembranças e um pouco de tristeza. Daí lembrei da morte de outra empregada, que causou uma situação inesperada na família, quando a patroa se deu conta que a filha (adulta) não queria mais dormir sozinha porque tinha medo. Pensei nas empregadas que tive, e lembrei da Bina, que era uma jovem faceira e sempre gostava de tudo que fazíamos e falávamos, jovens universitárias. E lembrei da Dona Vitalina, que ficava na fazenda e acordava de madrugada e fumava bastante (será que era assim? Minha irmã Vera ia confirmar, porque tinha uma memória de águia, via tudo e todos… mas ela já morreu, daí não tenho para quem perguntar). Lembrei do Irineu e Cida, que eram os caseiros do nosso sítio, uma experiência que me encheu o coração, e continua presente na lembrança.
Pois é, devemos ser fortes, saudáveis e nos orgulhar que estamos vivos, e pensando às vezes em quem não está mais nessa vida. Ainda bem que eu acredito que estamos passando pela vida, chegando de uma de antes para a de agora, e daqui pra outra … porque segundo Lavoisier, tudo se transforma, nada termina. muitas pessoas, são ameaçadoras. Nossa.
Lembrem sempre que se vocês estão recebendo esse texto…. vai ser porque eu penso em vocês, e sinto vocês perto, mesmo estando longe.
Se cuidem e, quem sabe, um dia nos encontramos.
(*) Yaya de Andrade – Safety & Well-Being da Canadian Red Cross