Tenho 77 anos: com certeza já utilizei a maior parte da minha quota de vida…. Se ainda tiver pela frente um tempinho, há algumas coisinhas que eu gostaria de fazer. Se não tiver… tudo bem! Penso que minha contribuição para o mundo já foi de bom tamanho. Penso que consegui dar conta, de modo equilibrado, das áreas da vida que julgo importantes. Vou contar meus feitos, e você me ajuda a confirmar se tenho razão.
Família é um valor forte. Para ser sucinta, menciono só a família nuclear: tive um só marido, com uma carreira profissional excepcionalmente bem-sucedida, e tenho certeza que nenhum relacionamento poderia ter sido melhor de que nosso casamento de 44 anos. Tivemos uma só filha: foi uma criança adorável, hoje é esposa e dona de casa dedicada, profissional brilhante, uma mulher ética, íntegra, generosa, ousada, aprendiz entusiasmada, bem-humorada, participante do mundo… Investi na família, e tive retorno. Concorda que minha família nuclear é um feito?
Educação e cultura são outros valores fortes. No papel de aprendiz, estudei Psicologia, em uma época em que fazer faculdade era pouco valorizado para moças. Fiz Mestrado e Doutorado. Fiz uns 20 cursos de extensão. Estive presente em uns 30 congressos, simpósios e equivalentes. Estudei inglês e francês. Estou bem tranquila com meus aprendizados!
Exercer uma profissão é outro valor importante, e nesse quesito tenho 3 vertentes:
. Fui professora, em graduação e pós-graduação, por 25 anos. Calculo que interagi com 5 mil alunos. Sempre me preocupei com que cada um deles aprendesse o que lhe seria importante no exercício da profissão e na vida.
. Fui psicoterapeuta, em clínica particular, durante 33 anos. Penso que fiz 20 400 sessões de terapia, atendendo a cerca de 600 clientes.
. Criei o IDEAC em 1987, primeiro voltado para questões educacionais, depois para o fenômeno do envelhecimento. Considerando só a fase do interesse pelo envelhecimento, e só as atividades presenciais, cerca de 1000 pessoas estiveram presentes nelas. Todas testemunham que saíram da atividade melhor do que entraram.
Publiquei 3 livros em Educação, 4 em Envelhecimento, 3 traduções do inglês. Os capítulos de livros, artigos, colunas, entrevistas, livretos, relatos de pesquisa… devem ter sido mais de 100… talvez de 200… Palestras devem ter sido umas 100. Gravei 2 cursos on line e tenho mais dois em fase de produção.
Escolhi profissões voltadas para ajudar outros seres humanos, e é muito recompensador pensar que pessoas se tornaram mais sábias, mais felizes, mais harmoniosas, mais produtiva… através da minha influência. Concorda comigo que isso, bem-feito, é um feito?
De quebra, cuidei de jardins, preparei refeições, faxinei, consertei, tricotei, fui responsável por bichinhos de estimação, assisti telenovelas, peças de teatro, filmes, séries, visitei, acompanhei, dei festas, conversei, ouvi música, viajei, percorri museus, participei de reuniões de condomínio, li romances, fui mesária, votei.
Estou satisfeita comigo; acho que contribui, sem feitos espetaculares, apenas cotidianos, para o mundo ser melhor. Tenho razão? Alguma sugestão?
Maria Celia de Abreu