Por Maria Celia de Abreu (*)
Entre incontáveis livros que habitam meu coração, este me é particularmente querido: “Andanças pela Europa: 1927: apontamentos de um paulista curioso”.
Em 1927, José Celso de Azevedo era solteiro. (Mais adiante, ele e Celia Teixeira se casaram, e meu irmão José Celso e eu fomos a consequência). Natural de Tatuí (SP), era alguém interessado pela vida, pelo progresso, valorizava a cultura e a educação, cantava lindamente, tocava violão e piano, era bom pé-de-valsa. Um negócio feliz com uma safra de algodão lhe rendeu um bom dinheiro, que ele gastou em dez meses na Europa. Era o período entreguerras, agitado, vibrante, controverso.
Voltou trazendo vários cartões postais e dois cadernos manuscritos com caligrafia perfeita, usando caneta-tinteiro. Um diário. O texto é leve, compreensível, claro, com pitadas de humor irônico; revela senso de observação agudo e um pensamento lógico, organizado, crítico. Como ninguém tinha financiado a viagem para ele, estava livre para emitir com absoluta sinceridade todos os julgamentos e opiniões que lhe surgiam na cabeça.
Esse diário foi escrito sem intenção de ser divulgado para além de familiares próximos. Mas… o mundo dá voltas! José Celso faleceu em 1968, e em 2003 o ilustre educador, psicólogo e editor Samuel Pfromm Netto, já falecido, encantou-se com ele. Fez um trabalho caprichoso de burilamento, dividiu-o em capítulos, ilustrou-o com os cartões postais e outras figuras do ano de 1927, buscou mapas das cidades europeias na época, e criou quadros interessantíssimos, com fatos daquele ano.
Como “Andanças pela Europa” desperta memórias de afetos, de costumes, de história, política, artes, economia, tem interessado leitores mais velhos; mas, para minha surpresa, também jovens e até adolescentes têm se deliciado com ele.
Pode ser lido de capa a capa, na sequência; ou pode-se ir diretamente para os registros de um país – ou de uma cidade – ou da travessia do Oceano Atlântico – sem que a leitura fique truncada. Até o registro de um único dia pode proporcionar uma ideia completa. Há quem percorra todos os quadros que arrolam fatos de 1927, há quem os ignore… e há quem gaste mais tempo com os postais do que com o texto.
É bom para ser lido quando se tem só um tempo curtinho disponível – ou quando se pode ficar degustando o Andanças por horas seguidas. Traz prazer se for lido em silêncio… para solitariamente se remoer lembranças e elaborar ideias – porém, também é bom para ser lido em voz alta… pois estimula a troca de recordações, de críticas e de risadas com outros.
Comecei este texto declarando que “Andanças pela Europa: 1927: apontamentos de um paulista curioso” me é particularmente querido. Acho que expliquei as razões, certo?
(*) Maria Celia de Abreu é psicóloga e coordenadora do Ideac
Para comprar o livro:
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Explicou muito bem e afetivamente!!