Yayá de Andrade (*)
Eu tive a oportunidade de participar de um seminário ótimo, da Cruz Vermelha canadense, onde os temas foram satisfação, qualidade de vida/trabalho, compaixão, fadiga, “burn out” e trauma secundário. Ah. Muitas coisas importantes, inclusive um pequeno questionário que serve de “red flag”, um tipo de farol amarelo que nos ajuda a ficar atentos a riscos relacionados com nossa saúde mental. Saúde mental não é o mesmo que doença mental, e saúde física não existe sem saúde mental.
A pandemia forçou a gente a se isolar, muitas ameaças ocorrem na nossa saúde e preocupações se tornaram mais e mais aparentes. Pessoas perderam pessoas queridas, trabalho, atividades e rotina, e existe uma evidente polarização sobre o que deve ser feito ou não. E tudo isso contribuindo para o aumento de depressão e ansiedade na população.
Por exemplo, existe uma estatística que no mundo (em geral) 10% a 15% da população se sentem deprimidos e/ou ansiosos, mas uma estatística atual mostrou que atualmente 30 a 40% da população se sentem deprimidos/ansiosos em 2021. Nossa, isso tem que ser levado a sério, e mesmo que você não faça parte dessa estatística, tem que ter um plano de autocuidado, saber suas responsabilidades e aceitar que não temos controle de tudo.
Eu me lembrei de uma história que em momentos de angústia parece importante termos alguém para conversar, para nos ajudar. Pense em dentistas que descobrem suas cáries, com certeza vão buscar outro dentista pra tratar dos seus dentes, sabendo que vai ser melhor, mais responsável.
Outra história ajuda a gente a entender melhor. Pense em uma estrada em uma serra (me lembrou Botucatu), onde geralmente nas áreas mais perigosas, que têm abismo ou precipício, existem cercas e barreiras que ajudam a evitar desastres desastrosos. Em algumas pontes (como Capilano em Vancouver) existem cordas pra gente se segurar, e você vê o rio lá embaixo.
O perigo fica amenizado com essas barreiras. A vacina, a máscara facial, no meu modo de ver, são barreiras ao vírus que não vemos, mas que pode nos atacar. Elas controlam riscos, e temos uma sensação de estar mais seguros, responsáveis pela nossa saúde e a dos outros que encontramos no dia a dia. Temos controle sobre tais medidas, e isso sempre vai ser importante.
Estudos mostram que ansiedade e depressão são causados e exacerbados por uma variedade de fatores: genéticos, estilo de vida, traços de personalidade, autopercepção, valores, procedimentos, o contexto onde vivemos e a estrutura social na qual nos relacionamos. Para evitar “burn out” devemos ter um bom plano de autocuidado, saber e praticar nossas responsabilidades, e aceitar que não temos controle de tudo.
Uma lista de coisas simples que ajuda inclui: questionar crenças e pensamentos irracionais; relaxar; aprender que existem palavras habituais que prejudicam nossa saúde mental, por exemplo, palavras “absolutas” como sempre, nunca… Tente trocá-las por outras mais suaves, como “algumas vezes, seria preferível, quem sabe vai ser diferente….”
Seja consciente do dia a dia e tente fazer um exercício bem simples: respire pelo nariz… pare e conte até 5… e daí deixe o ar sair pela boca. Parece que cada vez que fazemos isso, ganhamos 2 a 3 horas de tranquilidade interna, sem tensões no maxilar, na testa, e dormimos melhor. Tal exercício diminui atividade química no corpo que coloca em risco nosso sistema imune e nossa digestão.
Crescer e envelhecer nos deixa mais conscientes de problemas ao nosso redor e, evidentemente, ficamos mais tristes e preocupados e isso é normal. Mas veja as “red flags” que se apresentam no seu dia a dia, e se cuide. Seja responsável, não se furte de pedir ajuda a outros. E lembre que não existe saúde física sem saúde mental. Mantenha um bom plano de autocuidado sempre.