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A leveza da seda

Por Suely Tonarque (*)

Para falar do mundo dos tecidos, ainda que tenhamos a sensação que eles nos vestem, na verdade somos nós que navegamos no fluir de suas tramas, no mesmo barco que ele navega, nas mesmas correntezas que ele navegou.

A seda é uma fibra natural obtida do casulo do bicho da seda. Amamos a seda, o bicho da seda que somos, a transparência e a leveza que ela representa. A seda possui um ar de nobreza. O pensador e filosofo chinês Confúcio (551 – 479 a.C.) ajudou a divulgar a ideia de que o material foi descoberto pela imperatriz chinesa Hsi-Ling Shi (ou Seizu) no século XXVII a. C.

Assim se expressa a lenda da origem da seda: a esposa do imperador Amarelo se deparou com um casulo do bicho da seda dentro de sua xícara de chá, ao tomá-lo debaixo de uma amoreira. Quando puxou o fio do casulo após ele ter sido amolecido pela água do chá, ela fez com que o fio de seda se desenrolasse, espalhando-se pelo jardim. Outra lenda conhecida é a do “Gato protetor do bicho da seda”. Sabia-se que os ratos comiam os bichos da seda e, para afastá-los, os criadores compravam gatos.

A seda continuou seu caminho pelo mundo e atualmente os maiores produtores são: China – 146 mil toneladas; Índia – 28,7 mil toneladas; Uzbequistão – 1,1 mil toneladas; Tailândia – 692 toneladas e em quinto lugar o Brasil, com 560 toneladas.

Três estados brasileiros despontam como os únicos produtores de seda no país, segundo o IBGE: o Paraná responde por 83,3% da produção, seguido por São Paulo com 12%, e Mato Grosso do Sul com 4,7%.

Na produção da seda, o casulo é removido das árvores quando ficam prontos e são postos para secar. Depois passam por uma espécie de cozimento, que mata a larva ainda viva dentro do casulo e amolece a sericina. É esse processo que possibilita esticar o filamento do casulo. E todo esse processo, tem até poesia, como essa, de Sady Hannah:

Metamorfose

Eis que disforme, desajeitada, uma ninfa surge…

Desprezada, reprimida, repudiada totalmente.

Isolada, a pobre ninfa desloca-se de um lado para outro…

Sempre sozinha, seguindo seu caminho na mesma rotina da sua desolada vidinha.

A lagartinha vai devagar em cada lugar, deixa sua marquinha nas folhas.

De repente a ninfa isola-se, escolhe um lugar seguro.

Pendura-se, e por lá fica, surgem os fios da seda, envolvendo seu corpinho em forma.

Passam os dias. O casulo que a envolveu se desfaz.

Surgindo pequenas asas.

Branca como a neve, pequena, porém linda, um animal valioso, o bicho da seda, pura beleza.

A seda é um tecido que guarda muita diferença de outros tecidos, é natural e sua fibra é um filamento contínuo de proteína, produzido pelas lagartas. Acaba sendo uma das matérias primas mais caras, um tecido de alta qualidade e muito confortável. Seu brilho e toque são suas principais marcas, sua fibra é resistente e absorve a umidade e suor, por isso o tecido de seda se adapta aos climas mais quentes, ou mesmo na “meia estação”, em geral no Brasil.

A finalidade mais expressiva da seda é a mesma imagem nobre que ela carrega desde a época de sua descoberta, mantendo-se como um material muito desejado por centena de anos. A China mantém até hoje o segredo da produção da seda.

As grifes internacionais como Chanel, Prada, Valentim, Ives Saint Lourent, Bottega, Veneta entre outras, utilizam o tecido da seda não só em seus desfiles, mas durante todo o tempo. Nos vestidos, sapatos, casacos, nos lençóis, ou seja, a seda se faz sempre presente.

Um pouco de romance e amor neste tecido nos faz bem, nos enfeita com elegância e nos protege.

Nas lembranças, nas nossas memórias de uma paixão, acredito que terá na maioria das vezes uma peça de seda, um vestido, um lenço, uma blusa, uma calcinha, um sutiã. Fica a nostalgia, a saudade do que se foi e ainda é.

Em nosso casulo guardamos o que temos de mais precioso: os fios de seda que construímos e reconstruímos, os sonhos de nossa vida.

E tem até uma música linda para celebrar essa história, composta por Alcino Campos e Teodoro:

Vestido de Seda

Meu bem, eu queria que você voltasse,

Ao menos para buscar alguns objetos, que na despedida você não levou.

Um batom usado caído no canto da penteadeira,

Um vestido velho de poeira,

Jogado no quarto com marcas de amor,

Vestido de Seda, o seu manequim também te deixou,

Ai no cantinho, não tem o valor, se não tem aquela que tanto te usou.

(*) Suely Tonarque é psicóloga, gerontóloga e especialista em moda no envelhecer

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Jader Santos Andrade
Jader Santos Andrade
2 anos atrás

Uma verdadeira aula: obrigado! Parabéns!

Tatiana Wernikoff
Tatiana Wernikoff
2 anos atrás

Que lindo, instrutivo, poesia e prosa de uma riqueza visível! Amei!

SUELI CARVALHO
SUELI CARVALHO
2 anos atrás

Su, muito lindo. Encantada!

Cristina Molina
Cristina Molina
2 anos atrás

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