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Envelhecer é um contínuo desenvolvimento de adaptações

Por Ivani Cardoso

“Você já nasce envelhecendo e o processo não tem melhoria, não é como o vinho, não tem saída, você vai tratando cada hora uma coisa que aparece”, diz o Dr. Gonzalo Vecina Neto, infectologista dedicado à profissão e à saúde pública no Brasil.

Experiência tem de sobra: foi  Secretário Nacional da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, Diretor Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Secretário Municipal de Saúde de São Paulo, Superintendente do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e do Mestrado Profissional da Fundação Getúlio Vargas.

Dr. Gonzalo mantém a simplicidade no trato com as pessoas no dia a dia e tem a capacidade de falar sobre saúde de uma forma que todos entendem. Para ele, o conceito de saúde é mais difícil do o que da felicidade: “O que todos sabemos é que saúde é a ausência de doença, mas não existe a saúde cheia, existe um estado em que você acredita que tem uma vida saudável, mas você sabe que pode ter problemas com o envelhecimento e o que faz parte dele”.

Sobre o exercício da Medicina, vem a lição que muitos profissionais deveriam acatar: “Não adianta o médico indicar um monte de exames e não escutar o paciente. Ao escutar vai fazer um prognóstico, terá uma hipótese e vai dizer o que  interessa, falar do tratamento e das opções. Não é fácil essa comunicação. Os bons médicos sabem lidar com a morte, com a psique humana e têm o compromisso de não mentir e não agredir o paciente, é relação de confiança”.

Com toda experiência em décadas, ele infelizmente não vê a possibilidade de ter a saúde pública com a qual sonha: “É impossível sem ter educação, sem alimentação, sem segurança. O desenvolvimento de uma sociedade civilizada é um todo. Meu sonho é um país mais igual para todos”.

O médico acredita que a Covid veio para ficar, exceto se for descoberta uma vacina perene, mas ela continua sendo a melhor prevenção: “Tomei todas as doses, a vacina nos defende de uma boa parte do vírus, mas deve ser atualizada. As mutações são um evento probabilístico. A variante nova que está aparecendo não mudou, a infectividade é elevadíssima e a letalidade  é baixíssima. Talvez a questão mais evidente dessa variante nova é que quem já teve pode vir a ter de novo, mas se tiver vacinado terá uma proteção elevada contra doenças graves, principalmente os públicos mais expostos e frágeis”.

Uma recomendação valiosa para quem viaja de avião é uma boa forma de cuidado que ele não dispensa: “Principalmente em voos, uso máscara antes de ligar o motor do avião, quando começa a taxiar,  e na hora que ele para. Nesses dois momentos, o sistema de ar-condicionado, e sem os filtros por barreira você fica submetido à estrutura viral do ambiente. Durante o voo eu tiro a máscara. Em ambientes muito cheios ainda é recomendado bom senso. Temos que aprender a conviver com esse vírus, com os que continuam circulando e com os que virão”.

Quando comenta sobre o envelhecer, admite que não é fácil: “Envelhecer é perder capacidade, portanto é um contínuo desenvolvimento de adaptações. Depende de sua capacidade de se adaptar sem se entregar, você renuncia a algumas coisas e coloca outras no lugar. O que mais me preocupa é como as pessoas enxergam você dentro do processo de envelhecimento. Você passa a ser olhado como uma “vaca sagrada”; segundo, se você se apresentar para fazer alguma coisa e tiver alguém mais jovem, esse será o escolhido, acho que eu faria isso também”.

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