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Ter depressão não é “privilégio” da velhice

Maria Celia de Abreu (*)

O distúrbio depressivo se manifesta em todos os estágios da vida. Só que na velhice ela pode ser mascarada por estar misturada a outros males, rejeitada pelo próprio idoso que resiste à ideia de estar sofrendo um distúrbio que não é só físico, é tanto físico como emocional, e sub diagnosticado por se achar que os sintomas que a pessoa apresenta são apenas expressão do envelhecimento. Ora, depressão é um distúrbio; velhice, não.

A depressão tem alta incidência na população em geral. Em cada quatro ou cinco pessoas, uma terá um episódio depressivo em algum momento da vida. Entre essas, as mulheres são as principais vítimas: de cada três pessoas com depressão, duas são mulheres. Isso se mantêm até os 65 anos; depois, a frequência entre os sexos se iguala. Entre os brasileiros adultos, calcula-se que 6 a 8 por cento sofrem de depressão.

Não é fácil tentar identificar o que causa a depressão, em especial o que desencadeia a  depressão na maturidade. Sabe-se que é preciso haver uma combinação propícia de fatores: genéticos (há uma tendência genética para a depressão, não que ela seja transmitida de pai para filho), ambientais (por exemplo, sua incidência é maior em grupos menos privilegiados da sociedade, que enfrentam desemprego, bem como em grupos que passaram por guerra) e psicológicos (dores provocadas por perda ou por humilhação são os gatilhos mais frequentes). Só que é muito difícil identificar as condições desencadeantes desse distúrbio antes que ele se instale; em geral, são reconhecidas apenas em uma busca retrospectiva.

É importante constatar que há perdas em todas as idades. Talvez a principal agravante para o velho é que ele sabe que provavelmente não terá muito tempo de vida para que a dor que provocaram seja amenizada. E um outro agravante é que as perdas, que ocorrem em diversas fases da vida, estão acumuladas quando se chega à velhice.

Há uma tendência geral, cultural, para alguns fatores representarem perda para a maioria das pessoas de um determinado grupo. Entretanto, interpretar um acontecimento como perda, e determinar o grau de sua gravidade, segue um critério pessoal e único. Um evento que seria entendido como ganho, para uma determinada pessoa pode ser percebido como uma perda. E vice-versa. Para saber se isto dói mais do que perder aquilo, só indagando da própria pessoa.

Quando a perda ocorre, a pessoa fica fragilizada, indefesa, desorientada. Felizes são as que se preparam para as perdas antes delas ocorrerem, de modo a estarem mais aptas e mais fortes quando elas vierem. Seu tempo de recuperação será mais curto, e a energia gasta para se reequilibrarem será menor.

Tal preparação envolve: ter uma ocupação ou um trabalho; cultivar uma rede de relações sociais e afetivas com pessoas de diversas faixas etárias; cultivar o bom humor; desenvolver a espiritualidade; desenvolver a flexibilidade; aprender a aceitar ajuda de outros; conhecer-se, refletir sobre o que lhe acontece, reconhecer seus sentimentos. Uma psicoterapia facilita o alcance de todos esses itens, seja ela para a pessoa se fortalecer e crescer interiormente, seja para aliviar o luto por alguma perda significativa.

 

(*) Maria Celia de Abreu é psicóloga, coordenadora do Ideac e autora de vários livros, entre eles “Velhice, uma nova paisagem”  e “Depressão & Maturidade.

(Foto Engin_Akyurt/Pixabay)