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Francisca, uma frigideira e suas histórias

Por Lucy Araújo (*)

Acordei no dia 25 com muita preguiça!!!!! Dei um tempo para o corpo criar coragem para sair da cama.

Chegando a cozinha me deparei com o restante das arrumações a fazer…. Sorte que adiantei na véspera. Comi algumas frutinhas e fiquei na sala sentada lendo as mensagens do Whathsap. Passado alguns minutos e alegre em estar sendo lembrada por amigos e parentes, senti-me melhor. Tomei meu café de forma simples e não esqueci dos remédios.

Hum! Como é bom se sentir confortável. Mas era hora de partir para a luta: lavei algumas peças, mas sobrou o pior, as panelas: a primeira delas foi uma frigideirona grande, pesada de alumínio grosso, aquelas antigas, que hoje não se encontra para comprar.

Enquanto lavava caprichadamente, pensei: Quanta comida você deve ter ajudado a fazer em sua vida? Muitas….. Senti-me nostálgica.

Olhei para a frigideira refletindo qual seria a resposta se ela pudesse me contar por quantas mãos já passou.

 Veio para minha casa na compra de um apartamento mobiliado que meu pai comprou em Santos, no ano de 1969. Então, está com minha família há 51 anos.

E continuei: quantos anos você serviu a família? Muitos, claro. Você merece um troféu. Um Conto! Ah! Vamos escolher um nome para você: Lindalva… Amélia… Josefa… Gertrudes… Luzia.. Francisca, quem sabe?

Muito bem, gostei de Francisca.

A Francisca morou no apto de Santos durante muitos anos. Minha mãe, ótima cozinheira, preparou nela deliciosos peixes. Hummm….!

Que saudades, nessa época tudo era uma festa; meus pais eram fortes e dispostos, eu não tinha chegado aos 30 anos. Meu irmão, vinte e poucos anos.  Sempre que descíamos de São Paulo para Santos, nos finais de semana, levávamos amigos junto. O pequeno apartamento de quarto e sala aconchegava todos.

Francisca entrava em ação nos almoços, grande espaçosa e forte; servia os famintos com muita solicitude e eficiência. Escutava as conversa e desejos da família e de seus amigos.

Algumas vezes o apto recebia só homens, amigos de meu pai. O cozinheiro era ele, Francisca devia estranhar as mãos fortes e morenas do Sr. Chico, meu pai. Pode ser até que gostasse. Mãos másculas, mas devia apertá-la muito na hora de lavar. Mas a Francisca ficava limpinha, reluzente.

A Francisca me contou um fato muito engraçado que ocorreu numa desta ida dos homens. Estavam em quatro, foram à praia, todos gostavam muito de nadar. Voltaram para o apartamento para tomar banho de chuveiro. Meu pai antes gostava de tomar rapé, inspirava, dizia ele que fechava o corpo e não tinha resfriado que entrasse.

Então, ele ofereceu o rapé para os amigos. Um aceitou, respirou fundo o rapé e foi espirrar na área aberta de frente para o mar. Athimmm! E a dentadura foi junto descendo oito andares, caindo no meio da entrada de carros. Francisca ficou aflita: – e se passar um carro por cima?

 Os amigos ficaram gritando avisando os transeuntes enquanto o dono da dentadura descia para resgatar a dentadura. Que alívio. Tudo acabou bem e ele voltou feliz, peça importante estava inteira, pronta para saborear os quitutes de Francisca.

(*) Lucy Araújo é pedagoga e artista plástica, integrante do Grupo de Reflexões do Ideac

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