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Conheça um universo de informações para um envelhecimento saudável.

Reinventar as roupas, o corpo, a vida

Suely Tonarque (*)

A origem da palavra “significar” vem do latim – significare, mostrar por sinais, mais a raiz de facere – “fazer”. Ressignificar: verbo transitivo que caracteriza a ação de atribuir um novo significado, isto é, mudar atitudes, modificar o pensamento. Ressignificar uma experiência / Ressignificar uma roupa / Ressignificar o olhar sobre uma obra de arte.

Envelhecer é um processo muito difícil; não existe envelhecer com graça, com encanto, com prazer. É certo que fazemos um esforço para aceitar as mudanças do corpo, e acompanhar essas mudanças exige empenho e dedicação, também na nossa psique. Cada um de nós envelhece “conforme” a nossa trajetória do viver – desde o nascimento, a infância, a adolescência, a maturidade… e chega o envelhecimento. Chegamos com algumas dores, com tristezas das perdas, com novos projetos, com os desafios de dar uma ressignificação à nossa vida que, aos poucos, o prazo de validade vai vencendo.

O documentário 100 dias com Tata (tem na Netflix), além de engraçado, nos faz pensar sobre as questões do envelhecimento e da morte. O ator e diretor Miguel Ángel Muñoz realiza o filme com sua tia – a bisavó Luisa Cantero, de 95 anos – a Tata. Devido à pandemia do Covid-19, a idosa linda e maravilhosa, de cabelos longos (que a deixam mais bela) se transforma em uma verdadeira celebridade. Não deixe de ver o filme.

O filósofo Merleau Ponty (1999) concluiu que o corpo humano não é apenas um objeto estudado pela ciência: ele é condição e base para a existência. Do nosso corpo tudo depende da percepção do mundo quanto à própria criação desse mundo; o corpo está colocado no mundo e tem a capacidade de “vestir” a si e de se apresentar para o mundo.

As nossas escolhas para cobrir o corpo que envelhece são várias; na maioria das vezes acumulamos objetos – sapatos, vasos, casacos, xícaras, obras de arte, joias, dentre outras coisas. E, num determinado tempo, observamos que, em relação às vestimentas, elas ocupam muito lugar no guarda-roupa – vestidos, casacos, calças etc.

Acredito que duas questões sejam importantes: meu corpo já não é o mesmo; ou, neste momento, esta peça de roupa não tem mais significado. Posso então ressignificar, dando outro sentido através da criatividade (reformular), cortando, bordando, pintando… Invencionices para reformular outra peça que possua um significado, um elo interno e externo entre você e a roupa.

Cada dia que passa será necessário olhar, respeitar e cuidar do planeta, como canta Caetano Veloso (patrimônio histórico brasileiro) em Planeta Terra:

“Quando eu me encontrava preso

Na cela de uma cadeia

Foi que eu vi pela primeira vez

As tais fotografias

Em que apareces inteira

Porém lá não estavas nua

E sim, coberta de nuvens

 

Terra, terra

Por mais distante

O errante navegante

Quem jamais te esqueceria?

 

Ninguém supõe a morena

Dentro da estrela azulada

Na vertigem do cinema

Mando um abraço pra ti

Pequenina

Como se eu fosse o saudoso poeta

E fosses à Paraíba

 

Terra, terra

Por mais distante

O errante navegante

Quem jamais te esqueceria?

 

Eu estou apaixonado

Por uma menina, terra

Signo de elemento terra

Do mar se diz: Terra à vista

Terra para o pé, firmeza

Terra para a mão, carícia

Outros astros lhe são guia

 

Terra, terra

Por mais distante

O errante navegante

Quem jamais te esqueceria?

 

Eu sou um leão de fogo

Sem ti me consumiria

A mim mesmo eternamente

E de nada valeria

Acontecer de eu ser gente

E gente é outra alegria

Diferente das estrelas

 

Terra, terra

Por mais distante

O errante navegante

Quem jamais te esqueceria?

 

De onde nem tempo, nem espaço

Que a força mande coragem

Pra gente te dar carinho

Durante toda a viagem

Que realizas no nada

Através do qual carregas

O nome da tua carne

 

Terra, terra

Por mais distante

O errante navegante

Quem jamais te esqueceria?

 

Terra, terra

Por mais distante

O errante navegante

Quem jamais te esqueceria?

 

Terra, terra

Por mais distante

O errante navegante

Quem jamais te esqueceria?

 

Nas sacadas dos sobrados

Da velha São Salvador

Há lembranças de donzelas

Do tempo do Imperador

Tudo, tudo na Bahia

Faz a gente querer bem

A Bahia tem um jeito

 

Terra, terra

Por mais distante

O errante navegante

Quem jamais te esqueceria?

 

Quantas mensagens são transmitidas nesta maravilhosa canção que recebemos de presente – nem tempo, nem espaço, dar carinho durante a viagem – Tema do programa Planeta Terra da TV Cultura. Em tempos de Covid-19, a música de Caetano é uma obra-prima!

Viajei com o Planeta Terra de Caetano.

Voltando ao nosso envelhecimento, Velhices, Corpos e Vestimentas, o ato de refletir é uma proposta de buscar, criar e reinventar nossa nova imagem com vestidos “velhos”, tornando-os únicos.

“Meu corpo não é meu corpo,

é ilusão de outro ser.

Sabe a arte de esconder-me

e é de tal modo sagaz

que a mim de mim ele oculta”.

(As Contradições do Corpo, de Carlos Drummond de Andrade)

 

(*) Suely Tonarque é psicóloga, gerontóloga e especialista em moda no envelhecer

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Lucy de Araujo
Lucy de Araujo
2 anos atrás

Parabéns, Suely, seu texto apresenta sensibilidade, coerência e conhecimento no assunto.

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