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O truque da mágica

por Maria Celia de Abreu (*)

Mais um curso meu que termina. Na minha percepção, e pelos testemunhos dos participantes, foi um bom curso. Que alegria!

Cursos foram muitos ao longo da minha vida, porque as oportunidades foram muitas. Incontáveis. Sou indiscutivelmente veterana. O curioso é que a dedicação para planejar, a ansiedade esperando que comece, a concentração em todos os detalhes enquanto ele dura, e ao final a inestimável sensação de dever cumprido, de realização, por considerar os objetivos atingidos – o que não elimina uma revisão de possíveis pontos fracos que podem eventualmente ser aperfeiçoados no futuro – isso tudo se repete a cada vez que assumo um curso. O público, ao qual vou me dirigir como alunos, pode ser de jovens, idosos, leigos, doutores etc – não altera essa verdade. Qualquer público merece igual consideração de um educador.

Passei por todas as fases acima na preparação do curso “Idadismo: a culpa é sua?” que acabei de dar, no Ideac. Apesar da tranquila certeza de que domino o conteúdo, uma vez que transito pelo tema do envelhecimento há muitos anos, e que ainda por cima o conteúdo seria baseado no curso online “Conceitos, Preconceitos e Fatos”, já gravado e disponível, a minha ansiedade parecia de uma profissional novata. Ri de mim mesma muitas vezes. Quero crer que o nervoso é um fenômeno comum a muitos colegas, veteranos ou novatos, não importa… Será que me engano?

Já ouvi de atores experientes que eles passam por emoções semelhantes a cada vez que entram num palco e se apresentam a um público. Deve ser mesmo um processo bastante parecido.

Decidido dar um curso, o primeiro passo é definir o objetivo. Uma boa pergunta orientadora é: quando terminar meu curso, a pessoa vai ter aprendido o quê? O que justifica o tempo, a energia, o dinheiro que ela investiu?

Na resposta, ajuda conhecer um pouco da Psicologia da Aprendizagem; ela nos ensina que há aprendizagens de tipos diferentes, cada qual com uma estratégia mais propícia. Por exemplo, para aprender um conceito de alta abstração não há necessidade de repeti-lo infinitamente, mas é preciso que seja significativo, que se relacione com aprendizagens já estabelecidas anteriormente, que faça sentido. Já uma habilidade só vai ficar bem incorporada, para ser executada sem falhas, se for incansavelmente repetida. Lembrando que a grande maioria do que aprendemos incorpora um misto de tipos diversos de aprendizagem.

Para alcançar os objetivos previstos, é fundamental ter clareza sobre qual o tipo de aprendizagem – ou os tipos – que o aluno desse curso precisa adquirir. As estratégias que facilitam a aprendizagem do aluno, por exemplo, precisam ser coerentes com o tipo de aprendizagem. Outra coisa que ajuda é encontrar o título para o curso: o pensamento do planejador fica focalizado, fica objetivo.

Respostas nem sempre aparecem rapidamente. As vezes são horas, dias, semanas… pensando, rabiscando, consultando e conversando para chegar a uma conclusão que pareça boa.  Porém, pular esta etapa favorece que seja ministrado um curso improvisado, sem rumo, no qual o aluno até pode aprender o que é esperado, claro, mas há uma boa probabilidade de que aprenda coisas irrelevantes, ou… que não aprenda nada. Favorece também que o tempo, esse bem precioso, seja aproveitado adequadamente, sem ser perdido em detalhes irrelevantes, gaguejadas e dispersões.

Depois vem a parte pela qual os professores inexperientes muitas vezes começam: as estratégias, os textos, as tarefas de casa, o material, os recursos, as avaliações da aprendizagem. Os mais experientes já descobriram que isso tudo é decorrência de se ter determinado os objetivos. É uma parte bem estimulante, uma vez que aqui o professor pode dar asas à criatividade, o que é bem divertido. A imaginação pode correr solta, desde que obedecendo só a dois tutores: é a melhor forma de servir à aprendizagem dos objetivos? é adequada ao meu público?

Num curso, a figura mais importante não é o professor: é o aluno. O processo mais importante não é dar aula, é aprender. Prazeres, interesses, vaidades, conhecimentos do professor não podem predominar sobre as necessidades de aprendizagem do aluno. Como gosto de dizer quando falo sobre comunicação interpessoal, os holofotes daquele palco precisam estar voltados para o ator cujo papel é aprender; o ator cujo papel é ensinar apenas “faz escada”.

O momento em que professor e alunos pela primeira vez se defrontam está longe de ser o começo do curso… ele começou bem antes. O que gratifica é que ele não termine na última aula, mas que ele acabe muito depois! São duas pontas invisíveis, mas talvez aí se concentre o encanto e a mágica de ser professor.

Epa! Acabei de entregar o truque principal da mágica!  Agora qualquer um pode se exibir com ela! Que coisa!!!….

(*) Maria Celia de Abreu é psicóloga, coordenadora do Ideac e autora de “Velhice, uma nova paisagem”

 

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Jader Santos Andrade
Jader Santos Andrade
1 ano atrás

Um incrível truque de mágica!! (já comprovei!)

Maria Lucia Di Giovanni
Maria Lucia Di Giovanni
1 ano atrás

Parabéns Maria Célia! Você faz a arte de ensinar e aprender parecer fácil!
Sua paixão, competência e dedicação são responsáveis por isso. Penso que o truque, aparentemente simples, de fato não é. A mágica exige muito de quem se dedica a ensinar.
Você vive aquilo que ensina.
Um grande abraço!

Tatiana Wernikoff
Tatiana Wernikoff
1 ano atrás

Uma verdadeira aula de ensinar e aprender, de sonhar, planejar, realizar e sorver o aprendizado de quem assite, participa, interage. Maria Célia, vc me encanta! Parabéns