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Quem envelhece melhor? O homem ou a mulher?

Por Maria Celia de Abreu (*)

 É difícil generalizar para homens x mulheres. Aliás, no que tange ao grupo etário dos velhos, é difícil generalizar qualquer coisa, porque a heterogeneidade é uma forte característica dessa faixa. Quanto mais velhos somos, mais nos diferenciamos de nossos pares.

Generalizando, mas consciente da alta probabilidade de fazer generalizações indevidas, penso que quem melhor explicou a razão dessas diferenças foi o psiquiatra Flavio Gikovate; ele nos ensina que na raiz de tudo está a força vital da sexualidade, que é diferente para homens e mulheres: homens se excitam sexualmente sobretudo a partir do que veem, e mulheres a partir de se sentirem desejadas. Numa sociedade preconceituosa, mulheres mais velhas não são consideradas desejáveis; para mulheres extremamente bonitas essa adaptação fica especialmente difícil, porque é pela beleza física que elas se acostumaram a ser valorizadas e a seduzir.

Mas até mesmo a sexualidade, como todas as outras características de uma pessoa, vai gradualmente sofrendo modificações com o passar do tempo. A forte característica de excitação através do visual, mais própria dos homens, por exemplo, vai cedendo lugar para o estímulo tátil. Mulheres continuam a ser sedutoras, só que agora suas armas são outras.

Outra razão fortíssima para se criar uma ilusão de que os traços do envelhecimento não nos atingiram é que a gente sabe que depois da velhice… vem a morte. Uma incógnita que pode ser apavorante. Quem sabe, aparentando menos idade, eu posso adiar a preocupação com minha finitude? E, acima de tudo, quem sabe essa indesejada senhora não repara em mim?

Lidar com o envelhecimento é difícil, tanto para o homem como para a mulher. Aliás… lidar com a adolescência também é uma complicação, concordam?

Mas a dificuldade será incrivelmente amenizada quando admitirmos que nenhuma faixa de idade tem mais valor do que outra. Até lá, até que caia a ficha de que envelhecer é um processo natural e inexorável, para não se perceberem descartados, alijados, desprestigiados, decadentes etc etc, velhos e velhas vão tentando disfarçar os traços do envelhecimento.

Na minha percepção otimista, estamos atravessando uma época de turbulência, de profundas mudanças, porém, seremos recompensados, pois estamos caminhando para crenças mais verdadeiras e comportamentos mais amenos em relação aos velhos.         

(*) Maria Celia de Abreu é psicóloga, coordenadora do Ideac e autora de “Velhice, uma nova paisagem”