Nosso Blog

Conheça um universo de informações para um envelhecimento saudável.

A bela chita, nos labirintos da memória

Por Suely Tonarque (*)

A chita é um tipo de tecido de algodão, geralmente com flores graúdas e de cores vibrantes e intensas. As estampas florais são as mais comuns, mas pode-se também encontrar outras estampas. Ao mesmo tempo que é de uso popular é também clássica, sendo utilizada no artesanato, na decoração e no vestuário.

Etimologicamente, chita é um substantivo feminino, considerado um tecido ordinário de algodão, estampado de flores coloridas. Já na Botânica, é o nome de várias orquídeas do gênero Oncidium, da família das orquidáceas, cujas flores lembram a estampa desse tecido. Referindo-se à Zoologia, trata-se de um peixe da família dos serranídeos, de cor avermelhada ou em tons de amarelo com acúleos fortes nas nadadeiras dorsais e peitorais, garoupinhas. Diz-se, ainda, do gado de pelo branco e vermelho, geralmente com pequenas manchas (Chitadas)

As estampas dos tecidos de chita sempre me acompanharam. Na minha cidade de Rancharia, lembro-me das festas da Igreja, quando íamos com nossos pais, avistámos de longe o grupo das meninas, com vestidos coloridos, feitos de chita. Eu e minhas duas irmãs confirmávamos a regra: os modelos eram diferentes, as estampas eram de flores intensamente coloridas, mas eram todos de chita.

Embora fosse um tecido barato, considerado “da classe dos pobres”, amávamos nossos vestidos franzidos e rodávamos com eles, chamando atenção dos festeiros. Como era um local de clima muito quente, a chita permitia que o vento atravessasse nossas vestimentas.

Vou buscar nos labirintos da minha memória, quando nas festas juninas minha mãe pedia para a costureira fazer as toalhas de mesa com tecido de chita, mas os guardanapos, os saquinhos de amendoim e os bolos eram também envoltos em chita. Quando tinha por volta de nove/dez anos, eu e minhas irmãs tínhamos também os vestidos de chita para dançarmos quadrilha, as bandeirinhas de chita e uma bandeira grande com a gravura de São João. Tudo lindo, alegre, com o encantamento das cores nas entranhas da minha memória.

Ainda hoje, lembrei-me dos turbantes de Carmem Miranda, que foi cantora, dançarina e atriz luso-brasileira (nasceu em 1909 na cidade de Marco Canadense – Portugal). Veio para o Brasil com dois anos de idade, sua carreira artística aconteceu no Brasil e Estados Unidos, nas décadas de Vargas 1930 a 1950.

Apresentava-se com roupas coloridas, enfeites e chapéus com frutas tropicais. O tecido de chita estava presente em seus shows, principalmente com turbantes de chitas, deixando-a mais bonita e alegre. Ficou conhecida pela canção “Tai”, que foi recorde em vendas, de autoria de Joubert de Carvalho, escrita especialmente para ela.

Todas as quartas-feiras, desde junho de 2020, um grupo de pessoas que desejam “saber escrever”, mantêm um encontro com a professora Cremilda Medina, que através das suas escritas (dos alunos e da professora) vão se humanizando, disponibilizando suas experiências, resgatando as memórias e mudanças internas que acontecem, refletindo no cotidiano em companhia do papel e da caneta.

Com isso, atravessamos parte da realidade e nos aproximamos um pouco mais perto de nós, ou seja, é preciso se retirar do barulho, das redes sociais e das “festas”, mesmo online, para o encontro conosco, em consonância comigo. Durante este período de pandemia, os “encontros de quarta- feiras” foram e são um alimento para nossa alma. Vamos buscar nas escritas a compreensão do viver – a essência de nossa caminhada.

Cremilda hoje é uma professora que me ajudou neste período pandêmico, muito e muitíssimo. A ela, muitos e muitos obrigada. Recebi dela alguns livros de presente, e um deles é o “Símbolos Itinerantes, estampas mestiças da Chita da Índia para a América”.  Um pouco da minha escrita sobre o tecido Chita foi baseado neste livro

Quero deixar aqui também um agradecimento especial ao IDEAC, que me deu oportunidade de escrever textos todo mês, dividindo e multiplicando as nossas alegrias, sofrências e desafios neste ano de 2021. Esperando 2022 com esperanças verdes para germinar um tempo melhor.  

(*) Suely Tonarque é psicóloga, gerontóloga, integrante do Ideac e especialista em moda no envelhecer

5 2 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest

3 Comentários
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
Marisa
Marisa
2 anos atrás

Lindo texto, Suely! Como tudo o que fazes. Obrigada por compartilhar. Bjs

Celeste Pinheiro
Celeste Pinheiro
2 anos atrás

Que memória afetiva linda……muitas emoções de uma escritora sensível. Parabéns Suely você é incrível em tudo que faz amiga querida.❤️❤️