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 Hoje (e sempre) é importante para viver e refletir sobre a vida

Yaya de Andrade (*)

Às vezes, acordo às seis da manhã e penso nas pessoas de quem gosto. Nesta manhã, vi que lá fora a neve chegou (de novo…). No quentinho da cama, li no New York Times um autor que aprecio, David Brooks, e o artigo dele me inspirou para escrever. Aí estão as minhas ideias e pensamentos de hoje.

O tema do artigo que me instigou é sobre como podemos ser cidadãos de democracias e entender que temos benefícios, não só pessoalmente, mas em termos de comunidade e sociedade.

Assistindo TV, andando nas ruas, a gente se dá conta de inúmeras situações complicadas e ficamos imaginando como elas podem ser resolvidas. Com o privilégio de ter tido muito tempo para refletir, porque sou velha, hoje me considero uma pluralista. Aprendi que abraçar uma ideia ou acreditar que fundamentalmente existe uma solução, não é “saudável” ou realista.

Aprendi a valorizar não só uma possibilidade. Entendi que tensões requerem paciência e respeito, porque vivemos em sociedades que não são iguais, com pessoas que pensam e agem diferente sobre muitas coisas. Assim como perdas e morte, conflitos são parte da vida; o balanço entre pontos de vista diferentes sempre existiu e vai continuar existindo.

Tensões são mais aparentes se temos lealdade a um movimento em particular, se consideramos autoridades de um jeito específico, se queremos ter autonomia individual, estabilidade e, ao mesmo tempo, ser parte de uma comunidade,  continuar tendo espaço pessoal, sobressair e também nos encaixar em um grupo, lutar por justiça ou por misericórdia.

Nossas escolhas podem implicar em perdas ou sacrifícios, e isso é a realidade da vida e nos ensina humildade. Com a vivência que a duração da vida nos permite, descobrimos que não temos uma forma certa, absoluta de viver, e nem sempre fazemos a coisa certa, a melhor escolha, mas aceitamos isso… e aceitar outros que têm valores diferentes dos nossos significa aceitar que os valores deles são legítimos, e que não devemos impor nossos valores, mas podemos explicar nossas ideologias, sem arrogância, sem ilusões que os outros vão mudar por isso.  O caminho fácil, que é tentar acabar com quem pensa diferente da gente, não passa de uma ilusão, às vezes perigosa.

Aprendemos que, para conviver com conflitos, é necessário se engajar em um processo que demanda confiança e respeito, e como isso é difícil! Quando uma perspectiva adiciona algo, a outra perspectiva tem que adicionar algo também, até se chegar a uma resposta ou ação onde todos os envolvidos estão comprometidos.

Se até mesmo em Matemática, quando sabemos que 2 mais 2 fazem 4, alguém pode afirmar que podem ser também 22… não existe a verdade absoluta, no dia-a-dia nós continuamos a descobrir respostas que satisfazem em parte, cuja validade se perde com o passar do tempo, e portanto precisamos aceitar que sempre existe uma margem para erro.

História que me parece uma conversa sem fim…

(*) Yaya de Andrade é graduada em Psicologia no Brasil, continuou os estudos no Canadá e nos Estados Unidos. Sediada em Vancouver, por mais de 40 anos trabalhou como psicóloga clínica e professora universitária, desenvolvendo uma larga experiência com refugiados, povos nativos, grupos que passaram por adversidades e eventos traumáticos. Atualmente, aposentada, é voluntária na Cruz Vermelha Canadense, no setor de Segurança e Bem Estar, é membro ativo da Comissão Sênior de Aconselhamento da prefeitura de Burlington, cidade onde escolheu morar, ocasionalmente presta assistência domiciliar a idosos dependentes, e dedica-se ao Budismo, tanto em sua prática diária como sendo tutora no programa de Psicologia Budista.