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Conheça um universo de informações para um envelhecimento saudável.

Impactos e desafios provocados por Yuval Hararis e Miguel Nicolelis

Texto de Maria Celia de Abreu com colaboração de Cleide Martins e Maria Lúcia Ruiz Di Giovanni

1. APRESENTAÇÃO

Os componentes do Grupo para Estudos e Reflexões sobre o Envelhecimento Humano, do Ideac, estiveram lendo e discutindo dois livros: 21 Lições para o Século 21, de Yuval Harari, e O Verdadeiro Criador de Tudo, de Miguel Nicolelis. Ambos, em que pese os pontos de vista divergentes, tratam de um assunto controverso da atualidade: o papel da Inteligência Artificial.

Para encerrar essa etapa, alguns – cujas idades vão de 62 a 86 anos – escreveram sobre o que essas leituras representaram para eles. Foram depoimentos tão vibrantes que decidimos elaborar uma síntese para apresentar a outras pessoas, em especial a você, a quem me dirijo. Assim surgiu este texto: é uma organização e um resumo desses relatos escritos. O objetivo não é apresentar um resumo do conteúdo dos livros, mas organizar uma síntese das impressões que a leitura provocou nestes depoentes. 

2. IMPORTÂNCIA DESSAS LEITURAS PARA OS PARTICIPANTES DO GRUPO

Foi consenso: buscar entender o que está acontecendo no mundo atual é fundamental, não importa a faixa etária em que se está. Para os participantes deste grupo do Ideac foi produtivo ler esses dois autores contemporâneos, um historiador e um neurocientista. Uma leitura que exigiu esforço e investimento: busca de informações complementares capazes de permitir a compreensão do exposto pelos autores e um constante movimento de reflexão capaz de erguer a ponte entre as novas propostas e o nosso principal foco de interesse, o envelhecimento humano.  

Destacamos algumas frases que suportam as afirmativas acima:

“Novas janelas abertas para um mundo novo e abrangente do conhecimento sobre neurociência, evolução, ciência da computação, física, história, arte e filosofia.”

Antonio Carlos Martinelli

“Miguel Nicolelis traz ideias que contribuem para a compreensão da humanidade e do uso de novas tecnologias a favor da saúde.”

Cleide Martins

“O que resta aos velhos de hoje senão tratar de entender os tais algoritmos? Senão, quais as possibilidades de sobreviver? (…) Sabemos agora mais do que eu supunha ser possível. Nos unindo a cérebros pensantes lutaremos agora pelo direito de pensar, sentir e fazer sem nos submeter inocentemente aos algoritmos.”

Cleide Martins

“Ambos são autores instigantes, com uma fala pujante e clara, com textos que contribuem para reflexões e conscientização. “

Jader Andrade

“O aprendizado decorrente das ideias apresentadas pode, em alguma medida, ser útil para orientar familiares, amigos e comunidade, quando oportuno, a respeito das necessidades e valor da informação na tomada de posturas diante dos desafios da vida atual e futura.”

Jader Andrade

“Para mim foi uma DESCOBERTA. Abriu meus olhos para o mundo moderno. Fiquei curiosa, pesquisei. Harari tirou minha inocência. Fala sem rodeios o que está acontecendo no mundo de hoje. Fui convidada a pensar na atualidade, fria e interessada na produção com fins lucrativos. Fico assustada com a globalização e com a rapidez com que tudo acontece.”

Lucy de Araujo

“(…) os dois livros me pareceram adequados e importantes para a nossa leitura. Os autores, por caminhos diferentes, específicos de suas ciências, nos trazem (…) suas versões de como todo o universo de que fazemos parte se tornou o que é e mais, para quais direções apontam as mudanças que caracterizarão seu futuro. “

Maria Lucia Di Giovanni

21 Lições para o Século 21 é um livro que levanta inúmeras questões importantes para pensarmos o futuro. (…) Ansiedades e angústias são inevitáveis. Terminei o livro com mais dúvidas do que respostas… “

Marli Henriques

“Harari é um historiador e como tal me possibilitou ver essas transformações do mundo contemporâneo e refletir sobre minha vida, a minha velhice e pensar em possibilidades futuras.”

Marli Henriques 

“(…) uma experiência rica, onde tentei desenvolver a paciência, a angústia do não saber, o sofrimento de muitas informações atuais, as novas descobertas para uma mulher de 70 anos (…) “

Suely Tonarque

3. HOUVE DIFICULDADES

Não se pode dizer que esses dois livros oferecem uma leitura fácil, daquelas que deslizam sem obstáculos. Pior que isso: os textos não fazem parte da formação profissional da maioria dos participantes do grupo, não se alinhavam com suas aprendizagens anteriores. Portanto, houve uma movimentação constante no sentido de vasculhar informações complementares; alguns participantes já tinham familiaridade com um ou outro conceito exposto, e generosamente dividiram esclarecimentos; outras vezes era preciso parar a leitura e procurar o dicionário, o Google, ou recorrer a leituras do passado. 

É curioso, mas existia uma espécie de compromisso moral coletivo, não expresso, de dar conta da tarefa, e assim foi.   

Quem sabe servirá como incentivo saber que, se nós conseguimos superar os desafios, outros também podem – você, por exemplo. 

Vamos a frases que se referem às dificuldades encontradas nessas leituras:

“… contribuição indireta (para meu caminho no envelhecimento), contribuição apenas “marginal” sobre conhecimentos e práticas sobre o envelhecimento, porque esses livros não se propõem a isso; (trouxe) uma contribuição prática de exercício mental denso e sistemático para compreender um livro científico, com terminologia técnica negada às vezes pelo próprio dicionário”.

Antonio Carlos Martinelli

“Achei o livro (O Verdadeiro Criador de Tudo) muito difícil de ler. Letra miúda e parágrafos muito extensos, sem falar no tema. Tenho dificuldade para ler muitas horas, depois que apareceu o problema de mácula no meu olho esquerdo. Acho que é uma dificuldade que acontece mais com o velho.”

Lucy de Araujo

“Nesta leitura (referindo-se ao Harari) vivi momentos de dúvidas, incertezas, falta de clareza, ambiguidades, pensamentos díspares, mas sobrevivi.  

Marli Henriques

“A leitura deste livro (referindo-se ao Nicolelis) , muitas vezes penoso, me levou a um exercício de procurar entender o que nem sempre era compreensível. Voltar inúmeras vezes a uma mesma frase, procurar entender novos conceitos, foi um grande exercício mental.”

Marli Henriques

“Foi uma experiência rica diante das minhas dificuldades, um desafio doloroso”.

Suely Tonarque

 

4. HOUVE SUSTENTAÇÃO PELO GRUPO

Não foram poucas as vezes em que os membros do grupo enfatizaram, oralmente, a importância da discussão sistemática e grupal, nas reuniões semanais. A sustentação e o estímulo por estarmos juntos se mostrou definitivo. Foram os participantes que insistiram em estabelecer pontes entre o que os autores apresentavam e o nosso tema principal, o envelhecimento. Individualmente, como muitos expressaram em conversas, esse esforço não seria feito; ou encontraria maiores dificuldades. 

Entre as frases registradas no decorrer das reuniões semanais, alguns exemplos recorrentes de leitores amparados pelo grupo: 

“Gente, quase desisti… não fosse pelo compromisso de estar com vocês e aprender com nossa discussão, não sei se teria prosseguido.”

“Não foi fácil esse capítulo, muitos termos técnicos, dados científicos, estatísticas …”

Havia também quem encorajasse: 

“Não é necessário se fixar em detalhes das experiências científicas que ilustram a teoria de Nicolelis, mas sim captar a sua proposta e a essência da teoria.”

 

5. APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS

Com a leitura desses dois livros, ficou claro para os participantes do Grupo de  Estudos e Reflexões sobre o Envelhecimento Humano que mesmo pessoas velhas podem vencer o desafio de leituras reconhecidamente importantes na atualidade, mas nem sempre atraentes. Como sabemos, tudo na vida depende de interesse e investimento – a velhice não necessariamente nos alija de uma coisa e outra.

Ampliar, questionar e atualizar a visão do mundo foram as principais contribuições dessas leituras, talvez possamos sintetizar. Elas reafirmaram o conceito de que o conhecimento construído pela ciência segue cânones rígidos, demandando tempo, dedicação e financiamento, jamais desprezados. O entendimento do mundo através da ótica dos fatos históricos tem exigências semelhantes. 

Foi revisitada a percepção de que há determinados problemas, questões, eventos, fatos, fenômenos, ou outro nome que se queira dar, que são mais propícios para ser entendidos sob o ângulo da ciência, da história, da filosofia, da teologia, da bioética, da arte, etc, cada um com sua função e igual valor. 

Finalizamos este artigo com frases retiradas dos depoimentos escritos, agora ilustrativas das aprendizagens que foram importantes e que, esperamos, você leve consigo:

“… posso afirmar que os aprendizados decorrentes do estudo contribuíram para o meu esclarecimento a respeito do tema Penso que o enriquecimento intelectual nos proporciona melhor aproveitamento das experiências que a vida trouxer ou buscarmos.”

Jader Andrade

“Particularmente creio ser valoroso ser estimulado e participar de estudos dessa qualidade”. 

Jader Andrade

“…. outro enigma muito caro ao nosso exercício de Pantufas, buscando do que nos diz respeito (a reflexão sobre o envelhecimento) … “como será o mundo depois que formos embora?”

Maria Lucia Di Giovanni

“De alguma forma, o desafio e o prazer que a leitura nos trouxe vem ao encontro de questões que são nossas… (….) nosso entendimento de que estamos mais velhos, mas vivos e capazes. Talvez o entendimento mais importante para a vivência de uma boa velhice.”

Maria Lucia Di Giovanni

“Me vi pensando hoje no tempo presente, um tempo de massiva presença das tecnologias que, muitas vezes, se impõe às nossas decisões”. 

Marli Henriques

“Harari nos faz pensar e refletir sobre nós, nossas escolhas e o momento histórico que vivemos e isso vale qualquer leitura. (…) Harari me possibilitou ver essas transformações do mundo contemporâneo e refletir sobre a minha vida, a minha velhice e pensar em possibilidades futuras”

Marli Henriques

“Gostei de ter passado pela experiência.”

Marli Henriques

“A passagem que mais me levou a pensar em meu envelhecimento foi a famosa árvore na margem do Lago Leman, na Suíça. (…) . GOSTEI MUITO DESTA IMAGEM PARA PENSAR O ENVELHECIMENTO.”

Marli Henriques

6. PARA FINALIZAR

Para finalizar – agora de vez – queremos contar o que aprendemos com Harari: em tempos de tanta informação, compreensão é fundamental e clareza é poder. E como diz Nicolelis, o cérebro humano não atua como um computador digital:  ele faz análises que as máquinas não são capazes. 

Por outro lado ainda, Nicolelis nos alerta de que o uso da inteligência artificial acabará por alterar o funcionamento do cérebro humano, sem que se tenha controle sobre como isso poderá ocorrer; 

aí mora o perigo… 

Com essas leituras, fomos estimulados a exercitar o cérebro, a encarar desafios no sentido de desenvolver a leitura do mundo atual com toda a sua complexidade, a usar ao máximo os recursos de que dispomos.

Não é pouco.

Desejamos que você desfrute de muitas experiências enriquecedoras!

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