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Melhor idade, uma ova!

Estava lendo jornal – faço isso diariamente – e vi que estão comemorando os setenta anos da inauguração da Via Anchieta.  Caí na real: desci para Santos – a família toda! – nesse dia da inauguração. Nós admirados com a beleza da estrada, meu pai com os viadutos – ele dizia “que monstros!” – e minha mãe perguntando onde estavam os monstros.

Sou uma velha senhora classe média – tem gente por aí que diz que odeia a classe média, mas que vou fazer? Desculpem, tá?  Sou classe média e não posso fazer nada quanto a isso. 

Eu dizia: caí na real, sim. Como estou durando nesta vida de meu Deus! Tenho 92 anos e ainda dou para o gasto. Verdade que é preciso trabalho para esse “dou para o gasto” não acabar em água de barrela. Trabalhão! E ainda dizem que esta é a “melhor idade”. Que diabo de melhor idade é essa que me faz levantar, manhãzinha, me sentindo com cem anos? Depois do café melhora um pouco, já me sinto  com uns noventa e poucos. Logo mais acho que tenho só oitenta. Mas isso depois de tomar minhas gotas de extrato de sucupira para dor nas articulações, meu remédio homeopático de fundo,  mais Renitec para a pressão e  Lexapro para não brigar na rua. Sim, eu brigava um pouco no trânsito: não gosto que me “fechem” e nem que buzinem atrás de mim. Dá um ódio! Depois do remedinho melhorei bastante. Brigo ainda, mas raramente. Retomando: tomo também umas cápsulas de Cloreto de Magnésio, que é bom para tudo. Ia esquecendo: assim que levanto pingo colírio para controlar glaucoma. Aliás, além do glaucoma nos dois olhos tenho degeneração de mácula em um deles (com o outro já não enxergo nada!) e está chegando a data mensal em que vou ao oftalmo tomar a injeção de Eylea  no olho. Outro dia me dei conta que essa injeção é quimioterápica, safa! Tomo há sete anos e não sabia. 

Viram só os cuidados para a “melhor idade”? 

Pensam que fica nisso? Nada! Às 2as e 4as tenho musculação e alongamento, às 3as e 5as hidroginástica e às 6as deveria caminhar, mas está me dando uma dor nas costas tão grande que não aguento. Minhas sobrinhas querem que eu consulte um osteopata.  Vou consultar, mas preciso arranjar tempo para encaixá-lo: tenho oftalmo uma vez por mês (para ver a degeneração de mácula), outro oftalmo de quatro em quatro meses (para cuidar do glaucoma), tenho minha clínica geral, minha ginecologista, a cardiologista, consultei um neurologista, porque, de uns tempos para cá, tenho tido labirintite, tenho o ortopedista para ver minhas articulações. (Em tempo: coloquei prótese no joelho direito). Certamente esqueci alguma especialidade médica. Também tenho dentista, mas fujo dele como o diabo da cruz! Odeio implantar dentes e a cada vez que vou ao dentista é por que um dente caiu e tenho que implantar outro no lugar. 

Vida de idoso – isso que alguns engraçadinhos chamam de “melhor idade” – é mais ou menos assim. Sem esquecer que à noite tomo mais cápsulas de cloreto de magnésio e Liptor para controlar o colesterol.  E pingo mais dois colírios nos olhos.

Apesar de tudo – dos 92, dos remédios, das atividades para controlar isso e aquilo, das dores, das limitações – vou trabalhando, escrevendo, produzindo, tenho planos, projetos, só não sei se vai dar tempo de fazer tudo que ainda quero fazer. Precisaria ir até mais ou menos os cento e vinte, mas, pelo andar da carruagem, talvez não aguente tudo isso.

Ia esquecendo de um dado importante. Estava ficando meio surda e minha sobrinha me convenceu a colocar aparelhos. Estou com eles já faz tempinho, uns negocinhos minúsculos que vêm numa maletinha  com diversas coisinhas, paninhos para limpeza, uma escovinha, umas caixinhas  e uma série de livretos que li com atenção sem entender quase nada, principalmente um manual  tão minucioso e de explicações tão sofisticadas que  mais parece um catálogo da NASA explicando a astronautas o funcionamento de um foguete que deverão lançar quando em órbita no espaço. O preço? Um foguete da NASA  deve custar menos…

É isso. Prótese no joelho, um olho que não enxerga e outro com degeneração, uma perna mais curta do que a outra (descobri isso num SPA, me indicaram uma palmilha, mas não uso por que está nascendo um osso no peito do meu pé direito e a palmilha faz o pé subir e machuca ao andar, entenderam?), também tenho bursite no ombro esquerdo, a dor nas costas de que já falei, a labirintite que apareceu recentemente e um pouco de surdez (minha sobrinha diz que não é um pouco, é muito.) 

Minha grande frustração com os aparelhos nos ouvidos é que pensava que ia conseguir entender o que jovens atores dizem nas novelas e séries da tevê. Os meninos e meninas falam sem abrir a boca, e esta pobre mortal envelhecida não entendia nada. Coloquei os aparelhos e continuo sem entender. Por que motivo os jovens atores da Globo não abrem a boca para falar? Todo mundo abre a boca para falar, é coisa simples, não dói nem nada e essa gente não consegue! Arre, égua!

Tenho também alguns problemas de memória. Talvez seja só distração (Digo isso para não ficar em pânico). Outro dia passei várias vezes pelo meu carro sem o reconhecer. Não sei por que cargas d’água cismei  que a chapa do meu carro tinha o número da senha para abrir o portão da garagem do meu prédio. Às vezes também tento abrir o elevador com o controle remoto da porta do carro. São detalhes. Detalhes tão pequenos de nós dois: eu  e o tempo que passa rápido demais!

Mas fora tudo isso vou indo bem, obrigada. Tenho amigos maravilhosos; gosto de comer bem e de beber, idem; viajei muito e ainda quero viajar mais; tive uma casa na praia durante mais de quarenta anos, o que meu deu sustentação energética sem limites (embora tenha custado muito sustentá-la; digo, a casa); trabalhei com muito prazer em diversos lugares; namorei bastante, acertei, desacertei, gostei, me enrosquei e desenrosquei; “desabafo” quase todos os dias no Facebook criticando  políticos ladrões; curto muito meus amigos e minha família; leio muito e gosto; recentemente comecei a escrever um diário, uma amiga disse que vai ser um diário curto, daqui a pouco não vejo mais as letras do teclado do computador – sai azar!  Protestei!  – e vou colocando no diário opiniões, lembranças, reflexões, ideias. E projetos. Não me venham dizer que não estou  mais na idade de ter projetos! Arrenego!

E vou vivendo. Acho até que vou vivendo bem. De bem com a vida, certamente.   

Só não acho que esteja  na melhor idade.

“Melhor idade” uma ova!

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