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Enfrentar os desafios

O que é aproveitar a vida para você?

Para responder a essa pergunta, refleti sobre os momentos passados nos quais não tirei o proveito oferecido.

Passaram sob meus olhos as diferentes fases: infância, adolescência, juventude, maturidade e os momentos atuais da velhice.

Olhei para a infância e adolescência e senti muita alegria de rever amigos, as brincadeiras, os namorinhos, flertes e sonhos. Aproveitei sim, foram momentos bem vividos.  Meu coração sorriu.

Na juventude já começaram ruídos conflituosos, exigências de definição do que fazer quando crescer. Mas, colocados na balança do juízo final serão em maior número os momentos bem vividos.  Senti falta de ter meu pai pra me dar a mão. Falta de ter lhe confessado minha admiração, por ter sido um autodidata, músico e cozinheiro de primeira.

Na vida adulta, vieram os filhos, o trabalho pesado, a relação conjugal, as prestações de casa e o plano de saúde. Tudo vivido intensamente. A perda de um filho para o câncer foi a experiência mais dolorosa dessa e de todas as outras vidas que possam existir.

E é essa experiência que sou obrigada a encarar e dizer: o que apreendi? Tento resumir e não sou capaz de dizer em palavras. O coração aperta demais e nubla os pensamentos. Só sei que a navalha na carne cortou meu coração em duas partes, antes e depois. Muita coisa eu não fiz, mas fiz outras tantas para evitar a dor de meu filho. Não foi possível.

Negligenciei essa oportunidade, ou me dediquei ao máximo? Não sei, as dúvidas atormentam.

Como educadora, aprendi a fazer balanços e avaliações do aprendizado. Valorizo as conquistas, reconheço os erros ou enganos e os relativizo para tornar a vida mais aproveitável.

Ao chegar nessa fase, sei que o importante foi ter sido fiel aos meus sentimentos e às minhas convicções.  Talvez o aprendizado mais significativo seja reconhecer que caminhei no sentido de tornar-me eu mesma. Fugir das aparências e valorizar a essência.

Mas, valeu a pena? Minha alma diz que sim. Me fortaleci, carrego comigo os afetos que abrandam as dores. Sem amargura, mas com dignidade, vivi relacionamentos afetivos seguros.

Sou grata aos meus pais que me garantiram o acesso à educação; aos amigos e filhos que deram sentido à minha vida.

Importante, agora, é que eu me compare tão somente comigo mesma. Não importa aonde outros chegaram, mas importa ter desenvolvido alguns talentos.

Aproveitar a vida, enfim, não é ter privilégios, mas enfrentar seus desafios”.

Cleide Martins, Pedagoga e Mestre em Ciências da Religião pela Puc-SP.